A pesca nos Açores remonta à colonização das ilhas e atualmente explora cerca de 80 das mais de 500 espécies marinhas que compõem o ecossistema. Maioritariamente artesanal, os aparelhos de linha e anzol dominam as diversas pescarias.
Aliás, nas águas em torno dos Açores a potencialidade pesqueira é condicionada pela profundidade, fortes correntes e pela natureza e irregularidade do fundo, que dificultam a utilização de artes de pesca. Assim, a pesca praticada pela frota regional é realizada na proximidade das ilhas, nos bancos de pesca e nos montes submarinos que apresentam profundidades menores do que os 1.000 metros. Para exemplificar o forte condicionalismo de potenciais locais de pesca, a área das 100 milhas marítimas em torno dos Açores é de 376.840 km2, mas apenas 7.870 km2 (2%) representam fundos até aos 600 metros.
Mesmo assim, a atividade piscatória representa uma importante fonte de rendimento para muitas famílias açorianas. Segundo dados do Serviço Regional de Estatística dos Açores, em 2016 foram descarregadas mais de 6 mil toneladas de pesca nos portos açorianos, as quais renderam mais de 25 milhões de euros.
Analisando a distribuição por ilhas, mais de metade da pesca foi descarregada na ilha de São Miguel (52%), seguindo-se no pódio Terceira (18%) e Pico (13%). Contudo, como diferentes espécies têm diferentes valores comerciais, em termos de rendimentos obtém-se uma outra distribuição percentual para o pódio: São Miguel (48%), Terceira (19%) e Faial (11%).
Esta correspondência não direta entre a quantidade de pesca descarregada e o valor do pescado mostra como "pescar muito não é pescar melhor". Aliás, fazendo uma análise ao valor médio por quilo da pesca descarregada, obtém-se que, em termos de rendimento obtido, a maior eficácia foi obtida na ilha das Flores (11 €/kg), seguindo-se Corvo (10 €/kg) e São Jorge (7 €/kg).
Atendendo agora ao caso particular do Pico, os dados estatísticos mostram claramente que foi descarregado bastante pescado na ilha montanha (terceiro em quantidade a nível Açores) mas que o seu valor médio é o mais baixo de toda a região (apenas 2 €/kg). Para atenuar este efeito, de modo a aumentar o rendimento dos pescadores, ou se tenta dirigir os esforços de pesca para outras espécies, ou se tentar valorizar o pescado mais descarregado no Pico. Em relação a esta última hipótese, há que então destacar as espécies onde a ilha montanha é líder regional na quantidade descarregada — vide tabela.
Espécie | Quantidade descarregada no Pico (kg) | Percentagem do total Açores em 2016 |
---|---|---|
Peixe Espada Preto | 33 600 | 95% |
Caranguejo Real | 181 | 85% |
Bonito Gaiado | 455 252 | 68% |
Dourado | 679 | 59% |
Lapa | 30 246 | 48% |
Patruça | 1 324 | 29% |
Por fim, no meio de tantas estatísticas, há uma certeza permanente: os organismos extraídos do mar dos Açores são de elevadíssima qualidade, como qualquer um pode comprovar sempre que os "pesca no prato"!
Haja saúde!
Post scriptum: Esta análise foi igualmente publicada na edição n.º 41.299 do 'Diário dos Açores', de 18 de junho de 2017.
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