Serve esta breve introdução sobre a história do Aeroporto da ilha do Pico para mostrar que o Pico tem vindo progressivamente a crescer em termos de voos. Contudo, há uma questão que se levanta: será que a oferta está ajustada à procura, é excessiva ou inferior ao desejado pelo mercado?
Perguntando a um qualquer picaroto, ele prontamente responderia "é inferior!!!" No entanto, uma resposta justificada e ponderada requer factos que a sustentem. Analisemos então alguns dados:
- No passado mês de abril, quando entraram em vigor as novas obrigações de serviço nas ligações aéreas entre os Açores e o Continente (e começaram os voos low-cost para a ilha de São Miguel), o Pico foi a ilha dos Açores que mais cresceu em percentagem de passageiros desembarcados - 31,6%;
- No mês de maio, a ilha montanha registou um crescimento notável de 41,4%, sendo apenas superada pela ilha de São Miguel e apenas estas duas ilhas ficaram acima da média dos Açores.
Mas alguns dirão que talvez o Pico pode crescer mais mesmo sem aumentar o número de voos, sobretudo porque com o sistema de encaminhamentos gratuitos, uma pessoa pode viajar em low-cost para São Miguel e depois pedir gratuitamente o bilhete São Miguel - Pico. Então vejamos como estão os voos de São Miguel para as ilhas do triângulo (Pico, Faial e São Jorge) para a última semana de julho e a primeira de agosto (como o sistema de encaminhamentos gratuitos só permite no máximo uma estadia de 24h em São Miguel, se uma pessoa quiser chegar à ilha montanha é preciso voar para uma das ilhas vizinhas e depois apanhar o barco se o voo São Miguel - Pico estiver cheio; os dados aqui apresentados foram obtidos através de simulações efetuadas no site da SATA no dia 4 de julho):
Ora bem, as conclusões a tirar para quem quer viajar de São Miguel para o Pico são:
- A ilha do Pico é a única do triângulo onde em mais de metade dos dias analisados não há lugar nos voos;
- Nos dias 30 de julho e 2 de agosto é impossível chegar à ilha do Pico;
- No dia 27 de julho a única alternativa é viajar via São Jorge e depois apanhar o barco;
- Nos restantes dias em que não há voo pelo Pico, existe sempre a "tradicional" alternativa de viajar via Faial e depois apanhar o barco (em relação a este último ponto, é curioso que em todos os dias em que não há vagas nos voos de São Miguel para o Faial, também não as há nos voos para o Pico, o que significa que os voos para o Pico enchem primeiro...).
Resumindo, foram aqui apresentadas várias razões para o Pico precisar de mais voos. A SATA tem outras tendências e apresenta muitas variações (com direito a vídeo) em relação à operação na ilha montanha. Contudo, com estes dados já não serão só os picarotos a dizer que a oferta é inferior à procura, porque contra factos não há argumentos!
Haja saúde!
Parabéns por mais uma excelente análise, eu e qualquer pessoa olhando para esta análise fundamentada em dados reais fornecidos pela SATA Açores consegue compreender que existe uma oferta deficitária além de uma contínua má vontade com o povo da Ilha do Pico.
ResponderEliminarSerá a Ilha do Pico uma ameaça tão grande ao desenvolvimento da Ilha do Faial e das empresas privadas lá sedeadas como é o caso da ANA Aeroportos que seja necessário “castrar” o desenvolvimento da ilha montanha?
No meu ponto de vista penso que os açores ganham mais desenvolvendo 9 ilhas de igual forma com as devidas ponderações geográficas e demográficas do que “castrar” algumas ilhas para que as restantes se destaquem. Porque reprimir o desenvolvimento homogéneo do arquipélago em prol de interesses privados alheios ao bem-estar da população açoriana não me parece nada digno de um estado de direito.
Muito obrigado pelo comentário.
EliminarEu também sou da opinião de que o desenvolvimento dos Açores deve ser justo para todos: se há mais procura pelo Pico do que a oferta disponibilizada, então há que aumentar a oferta, porque todos ganham - os picarotos (mais serviços na sua ilha), os turistas (que chegam mais facilmente ao destino pretendido) e a transportadora (que consegue aumentar o lucro)! Se todos ganham, porque não se faz? Essa é a pergunta que a SATA e o Governo têm que responder...
Haja saúde!