Raul Brandão (1867-1930) é talvez uma das melhores pessoas a quem se pode recorrer para adequadamente se saber mais sobre a imagem dos Açores: no verão de 1924, este militar, jornalista e escritor português visitou todas as ilhas do arquipélago açoriano, tendo dessa viagem resultado a obra As ilhas desconhecidas - Notas e paisagens (Lisboa, 1926). Esta obra, dedicada "aos meus amigos dos Açores", é uma das obras que mais influíram na formação da imagem interna e externa das ilhas açorianas.
A ilha do Pico é referenciada inúmeras vezes em toda esta obra, e como o autor visitou todo o arquipélago, esta obra torna-se uma excelente fonte para descrever a ilha montanha e as suas gentes de forma não tendenciosa. Vejamos então algumas algumas passagens de As ilhas desconhecidas - Notas e paisagens...
[É notável como já na época era salientada a fama mundial da vinha do Pico, a qual é, desde 2004, Património da Humanidade, mas sempre foi uma autêntica lição de vida!]
(...) A vinha tem fama no mundo. O vinho branco do Pico, feito de verdelho e criado na lava, é um liquido com um pique amargo, cor de âmbar e que parece fogo. Levantam uma pedra, atiram um punhado de terra para o buraco e a videira deita raízes como pode, abrigada no curral pelos muros e estendida no chão sobre calhaus. Só lhe levantam um pouco as varas quando o cacho está perto de amadurecer. O Pico já deu milhares de pipas de vinho, que exportava quase na totalidade para a Rússia. (...)
[Repare-se como os naturais da ilha do Pico são referidos como "picarotos", mostrando a próxima passagem como a este gentílico bastante original estão associadas pessoas de bravura!]
(...) Os picarotos são os mais destemidos homens do mar do arquipélago, tisnados, secos, graves e leais. (...)
[Não é invulgar ouvir os visitantes da ilha montanha dizerem que o ar do Pico é menos húmido do que nas restantes ilhas dos Açores; Raul Brandão justifica-o!]
(...) O ar do Pico é maravilhoso de finura e graça. Chove e seca logo. Esta pedra porosa absorve a humidade como uma esponja. (...)
[A obra As ilhas desconhecidas - Notas e paisagens inspirou o código de cores das ilhas açorianas, sendo a seguinte passagem uma das razões para a ilha do Pico ser conhecida como "a ilha cinzenta"!]
(...) É o Pico na sua verdadeira expressão. Cinzento e negro, sempre cinzento e negro, o negro da terra, o negro dos montes cada vez maiores, e o cinzento estranho dos mistérios, vastas necrópoles, onde terra e pedra estão sepultadas sobre o mesmo lençol cinzento. É esta paisagem mineral que dá carácter à ilha magnética. (...)
[Muito mais pode ser dito sobre a ilha do Pico, e muitas mais coisas foram mencionadas sobre esta ilha na obra de Raul Brandão, mas o excerto que se segue resume tudo isto...]
(...) O Pico é a mais bela, a mais extraordinária ilha dos Açores, duma beleza que só a ela lhe pertence, duma cor admirável e com um estranho poder de atracção. (...)Haja saúde!
Paisagem também descrita por Raul Brandão em As ilhas desconhecidas - Notas e paisagens: (...) Uma nuvem branca e esguia cortou o Pico pelo meio e o cone sai da nuvem suspenso no ar por milagre. (...) |
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