Com a entrada em vigor das
novas Obrigações de Serviço Público nas ligações aéreas entre os Açores e o Continente, no final de março de 2015, a ilha do Pico passou a ser servida, de forma regular e obrigatória, com duas ligações semanais da SATA de/para Lisboa. Esta rota aérea, efetuada todas as segundas-feiras e sábados, conta normalmente com uma escala na ilha Terceira durante a viagem de regresso à capital portuguesa. A mais recente exceção a esta situação ocorreu no "pico" do verão passado, mais concretamente em julho e agosto de 2015, onde não só a
operação entre Lisboa e a ilha montanha foi direta em ambos os sentidos, como também existiu um
terceiro voo semanal Lisboa - Pico - Lisboa à sexta-feira.
O verão de 2016 vem aí e o que a
SATA tem planeado para esta rota em particular é efetuar, entre maio e setembro, três voos por semana entre Lisboa e o Pico, todas as segundas, sextas e sábados, no horário da manhã e sem escalas na ilha Terceira (ver esquema em anexo). Esta é uma boa notícia para todos aqueles que pretendem visitar a ilha montanha, bem como para os
picarotos, e é de salutar o facto de a SATA não só exceder o número mínimo obrigatório de voos nesta rota (dois por semana), mas também suprimir a escala na Terceira. No entanto, levanta-se sempre uma questão, principalmente durante o "pico" do verão: três voos por semana entre Lisboa e o Pico é pouco, é muito ou é justo? Um qualquer
picaroto responderá prontamente "é pouco", podendo eventualmente falar mais com o coração do que com a razão, mas mesmo assim poderá sempre sustentar a sua afirmação com o facto de,
em julho de 2015, a ligação Lisboa - Pico ter atingido uma taxa de ocupação de 99%. Contudo, este assunto merece uma análise mais detalhada, assente em mais factos estatísticos e em comparações com realidades similares nos Açores. Aqui fica então um pequeno estudo sobre esta matéria.
Comecemos por estabelecer uma métrica para o "poder de atração" de um determinado destino durante o "pico" do verão nos Açores, ou seja, durante os meses de julho e agosto. Sendo este "poder de atração" um tanto ao quanto subjetivo, uma forma de o tentar definir numericamente é recorrer ao número total de passageiros desembarcados num determinado aeroporto durante o período temporal em questão. Agora, identifique-se que outra realidade insular mais se assemelha à ilha do Pico, tendo em atenção os habitantes e a existência de voos com a capital portuguesa: a resposta é a ilha do Faial, a qual tem praticamente a mesma população da ilha montanha (
14.994 versus 14.148 habitantes, respetivamente, segundo os dados demográficos atuais -
Censos 2011) e o seu aeroporto da Horta também tem voos regulares todo o ano com Lisboa, com a particularidade de serem utilizadas exatamente as mesmas aeronaves nas rotas que ligam Lisboa ao Pico e Lisboa ao Faial.
Considere-se então o "poder de atração" das ilhas do Pico e do Faial recorrendo às estatísticas mais recentes: segundo os dados do
Serviço Regional de Estatística dos Açores relativos aos
transportes aéreos, durante o "pico" do verão de 2015 desembarcaram no aeroporto da ilha montanha quase 14 mil passageiros, enquanto o aeroporto da Horta recebeu cerca de 30 mil passageiros - ver Tabela 1 (de forma propositada são utilizados os dados relativos ao total de passageiros desembarcados independentemente da origem, pois para além do facto de muitas pessoas que viajam entre Lisboa e os Açores fazerem escala em diferentes ilhas antes de chegarem ao destino final, também ainda não são conhecidos os dados do
estudo prometido pelo Secretário Regional do Turismo e Transportes sobre estas escalas, como é exemplo o número de passageiros do Pico que utilizam o aeroporto da Horta para sair para o exterior).
Atente-se agora no número de voos entre a capital portuguesa e as ilhas do Pico e do Faial. Consultando o
site da SATA, e considerando o período de julho a agosto de 2016, verifica-se que, para além dos 3 voos por semana entre Lisboa e o Pico mencionados anteriormente, estão planeados 12 voos semanais na rota Lisboa - Horta - Lisboa (dois voos diários, exceto às segundas e sábados, onde só existe um voo - ver esquema em anexo). Sendo o objetivo deste estudo analisar a justiça do número de voos Lisboa - Pico - Lisboa planeados para o "pico" do próximo verão, aplique-se a seguinte "
regra de três simples" - ver Tabela 2: se um "poder de atração" de cerca de 30 mil dá origem a 12 voos semanais com Lisboa, então quase 14 mil deveria dar para... pelo menos 5 voos semanais com Lisboa!
A conclusão factual a que se chega é esta: a ilha do Pico deveria ser servida, nos meses de julho e agosto de 2016, não com três mas sim com cinco ligações semanais de/para Lisboa. Isto significa que as duas
gateways do Triângulo, Pico e Faial, deveriam no seu conjunto ter não 15 (3+12) mas sim 17 (5+12) ligações semanais com a capital portuguesa. Note-se ainda que esta proposta de mais voos de Lisboa para a ilha montanha, sem retirar qualquer voo para a ilha azul, não só permitiria que mais pessoas pudessem chegar a uma das principais portas de entrada do Triângulo,
zona açoriana que registou em 2015 um crescimento extraordinário no turismo, mas também daria origem a uma distribuição justa e equitativa das ligações semanais do conjunto Pico / Faial com a capital portuguesa, corrigindo a situação injusta e penalizadora para a ilha montanha que está atualmente planeada - ver Tabela 3.
Em suma, o
picaroto que afirma que o número de voos Lisboa - Pico - Lisboa "é pouco" não só fala com o coração, como sobretudo tem do seu lado a razão!
Haja saúde!
Anexo - Esquemas de voos planeados entre Lisboa e as ilhas do Pico e do Faial.