segunda-feira, 28 de março de 2016

Era uma vez o interior de um Armazém Património Mundial...

Recentemente foi inaugurado o novo espaço do Centro de Interpretação da Paisagem da Cultura da Vinha do Pico (vídeo em anexo). Esta obra consistiu na adaptação de um armazém tradicional do Lajido de Santa Luzia e na "nova" exposição interpretativa desta cultura da vinha, a qual é Património Mundial da Humanidade. Com esta obra o Governo Regional pretendeu "não só melhorar a oferta turística, dotando o centro de visitantes com uma nova área de exposição e um local destinado à mostra e prova de vinhos produzidos nesta área classificada, como libertar espaço para os serviços" (recorde-se que o antigo espaço deste centro de interpretação fora inaugurado em 2010).

Contudo, a obra agora inaugurada, e que foi realizada num espaço com tradição, está a provocar alguma contradição nas gentes da ilha montanha. Vamos então tentar perceber o que se passa...

O (ainda) texto oficial deste centro de visitantes refere o seguinte:
A visita ao Centro possibilita ainda a realização de uma visita guiada no exterior aos "currais" de vinha e de figueira, ao interior de um Armazém e de um Alambique tradicionais ainda em funcionamento, bem como percorrer todo o núcleo do Lajido, e assim compreender como este edificado está intimamente associado à cultura da vinha e da figueira.
Como o novo espaço do Centro de Interpretação da Paisagem da Cultura da Vinha do Pico fica localizado dentro do referido Armazém, acontece que agora os turistas ficaram privados de conhecer grande parte do antigo interior (o lagar ainda se mantém) de um armazém verdadeiramente típico na cultura da vinha e da figueira: um chão todo em brita, uns balseiros de madeira com um tamanho considerável, um carro de bois que ajudou a moldar as relheiras no basalto picoense, enfim, um espaço místico que permitia aos visitantes sentir outros aspetos que contribuíram para a classificação de toda a Cultura da Vinha do Pico como Património Mundial.

Também não deixa de ser altamente contraditório a seguinte situação: no novo espaço agora inaugurado encontra-se em exposição o conjunto de fotografias submetidas para o concurso "Um olhar sobre a Paisagem da Cultura da Vinha – Património Mundial", o qual foi lançado em 2014 para comemorar os 10 anos de classificação como Património da Humanidade; a foto vencedora (e que está em anexo) foi... aquela que destaca o antigo interior do Armazém em questão!

Não está em causa a qualidade da exposição de interpretação da cultura da vinha, a qual explica muito bem como é possível "da pedra fazer vinho". Também não está em questão a necessidade de os serviços precisarem de mais espaço e por isso terem ocupado o local onde se situava o antigo Centro de Interpretação da Paisagem da Cultura da Vinha do Pico. É pena é "ter sido necessário" modificar o interior de um Armazém Património Mundial.

Em suma, a verdade é que agora algum do Património Mundial já está modernizado e não preservado como era antigamente. Isto significa que ao invés da preservação e da explicação andarem de mãos dadas, tem-se a substituição do "pode se observar e sentir como era" por "estes textos e imagens explicam como era"!

Haja saúde!

O antes...
"Honor Guard" © Pedro Silva
(foto vencedora do concurso "Um olhar sobre a Paisagem da Cultura da Vinha – Património Mundial")

E o depois...

1 comentário:

  1. Se quem aí mora, não começa a apertar com eles, vão ficar sem muito mais coisas.

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