sexta-feira, 6 de maio de 2016

Carta aberta ao Presidente do Conselho de Administração da SATA sobre a operacionalidade do Aeroporto da ilha do Pico

Excelentíssimo Senhor Presidente do Conselho de Administração da SATA,

O meu nome é Ivo Sousa, tenho 31 anos e sou natural da ilha do Pico. Desde 2002 que os estudos universitários, no início, e agora a minha atividade profissional de investigador no Instituto de Telecomunicações, polo do Instituto Superior Técnico - Universidade de Lisboa, levam-me a passar a maior parte do tempo longe da ilha montanha. Contudo, sempre que me é possível estou de visita às minhas origens e, por isso, viajo frequentemente de avião entre a capital portuguesa e a ilha do Pico. Por esta razão, aliado também ao facto de ter um gosto especial pelas questões relacionadas com a aviação, preocupo-me não só sobre qual a melhor forma de chegar à ilha montanha, bem como desejo que o respetivo aeroporto disponha sempre das melhores condições possíveis. É precisamente sobre este último assunto que gostaria que me elucidasse sobre uma dúvida que tenho.

Antes de mais, quero aproveitar esta oportunidade para felicitar a SATA por todo o serviço público que tem prestado aos açorianos ao longo dos anos, permitindo que as distâncias entre ilhas, bem como entre estas e o continente e a diáspora, sejam minoradas e o isolamento proporcionado pelas águas do Atlântico pareça menor. No entanto, e de certo concordará comigo, o objetivo constante deverá ser sempre fazer mais e melhor com os recursos disponíveis.

Um dos exemplos de serviço público prestado pela SATA está relacionado precisamente com as ligações aéreas diretas entre Lisboa e a ilha do Pico. Recordo até que recentemente entrou em vigor, para esta rota, o horário de época alta, o qual contempla não só três rotações semanais, mas também a supressão da escala na ilha Terceira, o que beneficia claramente a mobilidade dos picarotos e dos turistas que visitam a ilha montanha. No entanto, e como certamente é do seu conhecimento, muitos passageiros oriundos de Lisboa e com destino à ilha do Pico viajam em voos diretos para a ilha do Faial, apanhando depois o barco com destino à ilha montanha. Existem inúmeras razões para esse comportamento, destacando-se o facto de existirem, por semana, mais ligações aéreas diretas para a ilha do Faial do que para a ilha do Pico, bem como a existência de uma articulação entre o transporte marítimo e aéreo, a qual permite que um passageiro chegue no mesmo dia à ilha de destino. Existe ainda um outro pormenor benéfico para os passageiros, ditado pelas Obrigações de Serviço Público nas ligações aéreas entre os Açores e o Continente: "No caso das ligações Lisboa-Horta-Lisboa e Lisboa-Pico-Lisboa serem canceladas por condições atmosféricas adversas, as transportadoras poderão, caso assim o entendam, alterar o destino do voo para a ilha mais próxima, desde que assegurem o pagamento da ligação marítima entre a ilha de destino e aquela para a qual o voo estava inicialmente programado." Note-se que, curiosamente, quando um voo com destino à ilha do Faial diverge para o Pico, os picarotos a bordo não só poupam à SATA o dinheiro correspondente à viagem marítima, bem como chegam mais cedo a casa.

Serve este extenso enquadramento para justificar o porquê desta missiva. Existe um sentimento generalizado na sociedade picoense de que muitas vezes, sobretudo em dias de nevoeiro junto ao Aeroporto da Horta, os aviões Airbus A320 da SATA que efetuam a ligação Lisboa-Horta não divergem para a ilha do Pico aquando da impossibilidade de aterrar no Faial, quando aparentemente, e do ponto de vista de um leigo na matéria, as condições meteorológicas parecem adequadas para se efetuar uma aterragem em segurança na ilha montanha. Mais concretamente, proponho que se atente à última situação deste género, a qual ocorreu no passado dia 4 de maio deste ano de 2016.

O voo S4 153, o qual fazia a ligação Lisboa-Horta, tinha chegada prevista às 16h40, mas, devido ao nevoeiro que se fazia sentir junto ao aeroporto de destino, o voo divergiu para Ponta Delgada, na ilha de São Miguel. Mais tarde, as condições meteorológicas melhoraram, acabando o avião em questão por finalmente descolar em direção à ilha do Faial, vindo a aterrar nesta última um pouco antes das 20h00 [ver imagens em anexo]. Do ponto de vista dos passageiros a bordo com destino à ilha do Pico, não só se levantou novamente a dúvida de o porquê de o voo não ter divergido para a ilha montanha (o tempo parecia favorável e semelhante a outros dias em que já houve operações dos A320 no Pico), bem como a hora de chegada tardia ao Faial impossibilitou a deslocação nesse mesmo dia para o Pico por via marítima recorrendo à operação regular da Atlânticoline, pois o último navio de passageiros zarpou do porto da Horta às 17h45.

Acontece que, tendo por base uma gravação áudio obtida pelo site LiveATC.net e que está disponível publicamente, é possível escutar que a coordenação (infere-se que da SATA) informou o comandante de que este deveria "divergir para o Pico e não para Ponta Delgada, porque conseguiremos desta forma transportar os passageiros de barco"; a tripulação respondeu dizendo que agradecia imenso a informação e que "operacionalmente, a tripulação, e de acordo com as condições meteorológicas, a nossa opção é Ponta Delgada, e agradecemos manter esse nosso plano." [Link para o registo áudio de onde foi transcrito este excerto (minutos 13:26-14:32), o qual também pode ser ouvido em anexo.]


A partir do excerto mencionado anteriormente posso concluir que se a coordenação solicitou que o voo fosse divergido para o Pico, então é porque entendia que poderiam estar reunidas as condições para uma aterragem em segurança neste aeroporto. Também registo que foram invocadas condições meteorológicas para a opção tomada pela tripulação, sem, contudo, ficar explícito a que local se referiam estas condições (digo isto porque não percebo se as condições meteorológicas mencionadas estariam relacionadas com as existentes na altura na ilha do Faial, e que impossibilitaram a operação programada, ou se, por outro lado, estariam relacionada com hipotéticas condições meteorológicas impeditivas de operar em segurança na ilha montanha no momento em questão).

Em suma, e ressalvando que não sou de maneira nenhuma um entendido em operacionalidade aeroportuária, mas apenas um mero cidadão interessado em que se potencie ao máximo as capacidades do Aeroporto da ilha do Pico, recordando que o mesmo é, de entre aqueles que são geridos pela SATA Aeródromos, o aeroporto que regista o maior movimento de passageiros e o único que recebe voos regulares do exterior da região, inclusivamente do estrangeiro, a dúvida que gostaria que Vossa Excelência me esclarecesse é a seguinte:

  • Existe algum tipo de limitação, por parte de tripulações dos Airbus A320 da SATA, relativo à operacionalidade do Aeroporto do Pico, hipoteticamente implicando assim que a SATA não esteja a explorar ao máximo as capacidades desta infraestrutura aeroportuária?

Termino, Senhor Presidente do Conselho de Administração da SATA, fazendo votos para que me possa elucidar cabalmente sobre o assunto que me motivou a lhe escrever esta carta, a qual torno pública pois um dia me ensinaram que a "dúvida de um é sempre a dúvida de mais algum", e tenho a certeza de que muitos picarotos ficarão mais satisfeitos quando lhes for esclarecida esta situação.

Haja saúde!

Post scriptum: Esta carta aberta foi enviada para o correio eletrónico info@sata.pt, sendo este um dos contactos que estão disponíveis na página oficial da SATA.

Post post scriptum: A SATA respondeu por e-mail na manhã de 6 de maio de 2016, informando que "a sua exposição foi enviada para o secretariado do Conselho de Administração da SATA. Deverá por favor, aguardar uma resposta."

Post post post scriptum: Esta carta aberta foi publicada na íntegra na edição n.º 40.973 do 'Diário dos Açores', de 7 de maio de 2016. Adicionalmente, a edição n.º 1.169 do semanário 'Ilha Maior', de 13 de maio de 2016, fez uma notícia sobre esta carta aberta.


4 comentários:

  1. Se obtiveres resposta digna desse nome, coloca aqui sff.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. É essa a minha intenção: de publicar o que me responderem. No entanto, e tal como solicitado pela SATA na manhã de 6 de maio, aguardo a resposta do respetivo Conselho de Administração.

      Eliminar
  2. O que ja conseguiste e o que continuas lutando para conseguir em prol do nosso bem estar, e' de louvar. Quando usufruindo dos beneficios que nos tens proporcionado, espero que te reconhecam dizendo apenas, muito obrigado.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Muito obrigado pelas palavras encorajadoras e motivadoras! Haja saúde!

      Eliminar

Para evitar perder a ideia do comentário, sugere-se que escreva primeiro o mesmo num editor de texto e depois copie para aqui; assim, se ocorrer algum erro (por vezes não funciona à primeira), tem sempre cópia do seu texto.

Muito obrigado por comentar neste blog! Haja saúde!