Pela natureza arquipelágica dos Açores, o transporte marítimo de mercadorias assume uma função essencial no que concerne ao abastecimento das ilhas, bem como permite a exportação de muitos dos bens produzidos nas diversas ilhas açorianas: sejam alimentos, medicamentos, materiais de construção, carros, combustíveis, etc., de tudo um pouco chega às ilhas por via marítima; por outro lado, leite e derivados, carne, vinhos, entre outros, saem para o exterior da Região Autónoma dos Açores através dos navios porta-contentores.
Torna-se assim interessante analisar algumas estatísticas relacionadas com a carga transportada por navios, de forma a conhecer melhor a realidade açoriana. Segundo os dados do Serviço Regional de Estatística dos Açores relativos aos o transporte marítimo de mercadorias, em 2015 foram descarregadas cerca de um milhão e meio de toneladas de carga nos portos comerciais açorianos, as quais se dividiram pelas diversas ilhas como se apresenta na tabela seguinte (nota: não estão disponíveis dados relativos à ilha do Corvo).
Como se pode observar, mais de metade da carga destina-se à ilha de São Miguel, sendo que a distribuição percentual entre as ilhas segue a mesma distribuição da população dos Açores, à exceção das ilhas do Pico e do Faial (a ilha montanha tem menos população mas regista mais mercadoria descarregada do que a vizinha ilha do Faial).
Estas estatísticas podem também ser analisadas de uma outra forma, de modo a tentar descobrir indiretamente outras informações sobre a economia açoriana. Assim, a tabela seguinte apresenta a relação entre a carga descarregada e a carga carregada em cada ilha.
A primeira conclusão a que se chega é que todas as ilhas dos Açores importam muitos mais bens do que exportam. A título de exemplo, mesmo a ilha de São Miguel, aquela que apresenta o rácio mais elevado, exporta menos de metade da quantidade de bens do que aqueles importados. No todo regional, a média situa-se em um pouco mais de um terço de carga exportada face à importada.
Ressalvando que o valor económico de um qualquer bem não se mede ao peso, ainda assim os valores da última tabela permitem fazer uma aproximação grosseira da dependência económica de cada ilha face ao exterior. Por outras palavras, quando maior for o valor do rácio, então provavelmente maior será a capacidade de uma determinada ilha gerar riqueza a partir dos produtos locais, de forma a sustentar os bens vindos do exterior que consome.
Analisando de novo a tabela, os dados permitem inferir que a ilha de São Miguel é aquela cujos produtos locais mais contribuem na geração de riqueza, sendo acompanhada no pódio pelas ilhas Terceira e Graciosa, respetivamente. Verifica-se também que, considerando todas as ilhas açorianas, a economia menos dependente dos produtos locais e provavelmente mais dependente de outras atividades, como turismo ou serviços, é a economia da ilha do Faial.
Em suma, este pequeno estudo teve por objetivo conhecer melhor a realidade dos Açores, de forma a que os açorianos (e não só) fiquem com a noção de qual é a dependência económica desta Região Autónoma face ao exterior. No entanto, saliente-se que os Açores têm muito valor que não é mensurável em quantidades objetivas, como a riqueza natural, a gastronomia, a simpatia das suas gentes, enfim, tudo aquilo que verdadeiramente torna o arquipélago açoriano magnífico e único em todo o mundo!
Haja saúde!
Post scriptum: Este artigo foi publicado posteriormente na edição n.º 41.060 do 'Diário dos Açores', de 25 de agosto de 2016, e deu origem a uma reportagem na edição n.º 21.884 do 'Diário Insular', de 26 de agosto de 2016.
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