As ilhas de São Jorge, Pico e Faial formam o chamado "Triângulo", expoente máximo da sensação de arquipélago na Região Autónoma dos Açores: ilhas com paisagens e culturas diferentes mas que se avistam entre si todos os dias. Seja pelas
fajãs de São Jorge, pela
Montanha do Pico, pelo
Vulcão dos Capelinhos ou por muitas outras razões, visitar estas três ilhas é sinónimo de embarcar numa autêntica viagem
certificada pela natureza!
Outra particularidade do "Triângulo" no contexto regional é que, depois de se chegar a uma das suas ilhas, torna-se relativamente simples alcançar as restantes recorrendo às
ligações marítimas regulares que todos os dias as unem. Assim, esta zona do arquipélago pode ser considerado como um território semi-contíguo, o que significa que é justo analisar o conjunto destas três ilhas, ao invés de as considerar separadamente: o "Triângulo" contém 15,5% da população açoriana (
Censos 2011) mas representa mais de um terço da área terrestre do arquipélago, mais concretamente 37,1 % (
SIARAM); adicionalmente, é nestas três ilhas que a maioria dos turistas de espaço rural dormem quando visitam os Açores (cerca de 42% em 2016 —
SREA).
A esmagadora maioria das pessoas que pretendem entrar ou sair do "Triângulo", sejam residentes ou turistas, escolhem invariavelmente o avião como meio de transporte preferido, pois esta opção é não só a mais rápida, mas também a mais acessível ao público em geral. Por esta razão, a existência de um aeroporto em cada uma das três ilhas é fundamental para garantir que é minimizado ao máximo o isolamento de cada uma das partes que compõem o "Triângulo". Por outro lado, e devido à particularidade do "Triângulo" poder ser encarado como um território semi-contíguo, dotar uma destas três ilhas com uma infraestrutura aeroportuária com capacidade para servir condignamente as ligações aéreas com o exterior, quer para o território nacional, quer para o estrangeiro, é igualmente benéfico para as restantes ilhas.
Deste modo, assume particular importância analisar como os aeroportos do "Triângulo" servem o conjunto das três ilhas, o que não só permite descobrir o impacto que cada uma das infraestruturas aeroportuárias tem neste grupo de ilhas, bem como possibilita a identificação de qual o aeroporto que melhor serve o "Triângulo" no seu todo. Por esta razão, apresenta-se de seguida um estudo sobre este tema.
Para avaliar como um aeroporto serve a população, primeiro há que definir uma métrica que traduza diretamente a relação custo/benefício entre a localização da infraestrutura aeroportuária e a origem ou destino do passageiro. Assim, a métrica escolhida para este estudo foi o tempo de viagem entre o aeroporto de entrada no "Triângulo" e o destino final numa qualquer das três ilhas. Posto isto, os restantes pressupostos do estudo são:
- Para cada um dos três aeroportos é determinado o tempo de viagem entre essa infraestrutura aeroportuária e o centro de cada uma das freguesias existentes no "Triângulo";
- Os destinos finais que não se encontrem na mesma ilha do aeroporto de entrada implicam que parte do percurso seja feito por via marítima, o que por sua vez significa que as respetivas gares marítimas são pontos intermédios do percurso;
- Os tempos de viagem utilizando meios terrestres são calculados a partir das distâncias obtidas através do Google Maps e assumindo uma velocidade de 50 km/h (de forma a não infringir o artigo 27.º do Código da Estrada);
- Relativamente às viagens marítimas, são consideradas as ligações diárias mais céleres disponíveis durante todo o verão pelas linhas Azul e Verde da Atlânticoline, isto é, as seis ligações entre Madalena (Pico) e Horta (Faial), as duas ligações entre São Roque (Pico) e Velas (São Jorge) e as duas ligações entre Velas e Horta (as quais têm uma escala intermédia na ilha montanha);
- Sempre que o percurso entre o aeroporto e o destino final implique uma viagem marítima, o tempo média de espera pelo barco é considerado, bem como é adicionado um tempo fixo de 10 minutos à duração da viagem marítima, de forma a contabilizar os efeitos da mudança entre meios de transporte;
- Finalmente, é assumido que um passageiro está pronto a sair do aeroporto de entrada rumo ao seu destino no "Triângulo" a partir das 9h00 e até à hora máxima que garante que este chega ao local final pretendido no mesmo dia, com distribuição uniforme neste intervalo de tempo.
Com base em tudo o que foi mencionado anteriormente, as durações de viagens entre cada aeroporto do "Triângulo" e um qualquer local nesta zona do arquipélago foram determinadas (ver anexo). A Tabela 1 apresenta a duração máxima de viagem para qualquer ponto no "Triângulo" partindo de cada um dos três aeroportos em análise.
Como se pode constatar, o aeroporto da ilha do Pico é o que apresenta o menor tempo da viagem mais demorada entre uma infraestrutura aeroportuária do "Triângulo" e o respetivo local mais longe em termos de tempo (no caso aeroporto da ilha montanha, cerca de 7 horas e um terço para o Topo, São Jorge). Segue-se o aeroporto situado na ilha do Faial, o qual apresenta pouco mais de 8 horas de duração máxima de viagem (Topo, São Jorge), enquanto o aeroporto da ilha de São Jorge apresenta o pior desempenho, com pouco mais de 8 horas e um terço de duração da viagem mais demorada (Praia do Norte, Faial).
Contudo, a análise da duração máxima de viagem permite apenas ter em consideração a dispersão geográfica do território, deixando de fora a densidade populacional de cada freguesia (e consequentemente de cada ilha). Assim, é necessário efetuar uma média ponderada da duração de viagem atendendo ao número de habitantes de cada localidade (
Censos 2011), cujos resultados se apresentam na Tabela 2.
Como se pode verificar, mais uma vez o aeroporto da ilha do Pico apresenta o melhor desempenho, desta vez em termos da média ponderada da duração de viagem para qualquer ponto no "Triângulo" (ligeiramente inferior a 2 horas e três quartos), seguido da infraestrutura aeroportuária localizada no Faial (quase 3 horas), sendo que o aeroporto da ilha de São Jorge apresenta o pior desempenho (quase 5 horas e três quartos).
Em suma, este estudo sobre como os aeroportos do "Triângulo" servem o conjunto das três ilhas permite tirar uma conclusão factual, isto é, imparcial e objetiva: dotar o aeroporto da ilha do Pico com capacidade para servir condignamente as ligações aéreas com o exterior, quer para o território nacional, quer para o estrangeiro, é a escolha acertada em termos da infraestrutura aeroportuária que consegue maximizar o benefício para todas as três ilhas que formam o "Triângulo".
Haja saúde!
Post scriptum: Este estudo foi igualmente publicado na edição n.º 41.180 do 'Diário dos Açores', de 24 de janeiro de 2017. Adicionalmente, este estudo foi mencionado na edição n.º 1.206 do 'Ilha Maior', de 27 de janeiro de 2017, deu origem a uma
notícia na RDP-Açores, emitida em 6 de fevereiro de 2017, e a uma
notícia na RTP-Açores, emitida em 7 de fevereiro de 2017.
Anexo
Durações de viagens entre cada aeroporto do "Triângulo" e um qualquer local nestas três ilhas