Hoje, 20 de maio de 2017, comemora-se mais um aniversário da inauguração em 1994 do
Museu da Indústria Baleeira, situado em São Roque do Pico. Integrando estas celebrações dos 23 anos de existência deste espaço museológico, irá ocorrer neste local, pelas 21h00, uma
apresentação de obras de José Carlos Garcia:
- A Fábrica da Baleia de São Roque do Pico – Açores (3.ª edição)
- Roteiro da Fábrica da Baleia de São Roque do Pico – Açores (1.ª edição)
Este museu pode ser encarado como uma autêntica viagem no tempo, pois o mesmo resulta da reconversão da antiga unidade fabril que foi o maior e mais importante complexo de transformação e processamento de cachalotes dos Açores e que laborou entre 1949 e 1984.
Mas, então, como nasceu a "Fábrica da Baleia" de São Roque do Pico?
Pois bem, e graças a umas notas escritas deixadas pelo saudoso José Duarte Garcia, é possível não só responder à pergunta anterior, mas também perceber o sentimento de uma pessoa, em particular, e de uma sociedade, em geral, relativamente ao impacto que a "Fábrica da Baleia" teve durante a época em que laborou.
Assim, e também como forma de homenagear os antepassados empreendedores que deram o seu melhor para trazer prosperidade para a sua comunidade, transcreve-se de seguida e na íntegra as notas históricas supramencionadas, constituindo esta a minha oferta para o
Museu da Indústria Baleeira.
Haja saúde!
Como nasceu a "Fábrica da Baleia" de São Roque do Pico
Eram três, até 1942, em São Roque do Pico, as armações que se dedicavam à caça da baleia (cachalote) e à extração do óleo: "Companhia Velha Baleeira, Lda.", "Armação Baleeira Livramento, Lda." e "Atlântida, Lda.".
Eram "companhias guerreadas", quer no mar, quer em terra. Para extrair o óleo em caldeiras a fogo direto era tarefa difícil e demorada e o produto de inferior qualidade. Urgia melhorar a situação.
Alguém pensou, e bem, reunir as armações e construir uma fábrica com extração do óleo a vapor, o que lhe daria "boa qualidade".
Assim se fez e no dia 29 de agosto de 1942, no Cartório Notarial de São Roque do Pico, é lavrada a escritura de "Constituição de Sociedade" denominada "Armações Baleeiras Reunidas, Lda.".
Poucos anos depois entra em funcionamento a tão desejada "Fábrica da Baleia". Tudo se modifica: aumentam as capturas; aumentam as quantidades e qualidades dos óleos; aumenta o poder económico.
O poder económico foi tal que levou o povo a dizer:
— Nascer nas Lajes do Pico para nascer nobre;
— Viver no Cais do Pico para viver rico;
— Morrer na Madalena para ter grande funeral.
A "Fábrica da Baleia" teve elevado valor, não só para o concelho, como para todo o Grupo Central. Nela se transformaram em óleos, farinhas e vitaminas, em determinado tempo, os cachalotes de todo o Pico, Faial, São Jorge, Graciosa e Terceira.
Posso testemunhar que, num só dia, chegaram ao Cais do Pico 38 baleias (cachalotes).
Duma forma geral, tudo correu bem até 1984, ano em que foi proibida a captura de baleias.
José Duarte Garcia
Praceta dos baleeiros (do Cais do Pico) em 1974