O Serviço Regional de Estatística dos Açores divulgou recentemente os dados relativos ao transporte aéreo que permitem fazer uma análise ao primeiro semestre de 2017. As estatísticas mostram que continua a haver um crescimento dos passageiros aéreos de e para todas as ilhas açorianas, o qual atingiu 19,0% como valor médio.
Analisando com mais detalhe, verifica-se que apenas a ilha de São Miguel regista um crescimento acima da média regional. Por outras palavras, existe um claro desequilíbrio face ao restante arquipélago, o que pode ser resultado de uma maior procura deste destino em relação às restantes ilhas e/ou devido ao uso do respetivo aeroporto como principal porta de entrada dos Açores (sobretudo atendendo aos voos internacionais e low cost).
Por outro lado, a ilha do Pico é a que regista o menor crescimento percentual no mesmo período homólogo face a 2016. Notando mais uma vez que todas a ilhas crescem em termos de passageiros aéreos, a questão que se põe é: porque cresce a ilha montanha menos do que as outras, quando no ano passado foi a que registou o maior crescimento a nível Açores? A resposta mais imediata seria afirmar que o destino Pico está a atingir um ponto de saturação, que a procura está a crescer mas a um ritmo mais lento. Contudo, esta saturação pode ser artificial, como se demonstra de seguida.
A ilha montanha tem registado nos últimos tempos um número recorde de voos esgotados — situação comprovada por uma análise já apresentada neste blog, onde se mostrou que quase metade dos dias (45%) com voos totalmente esgotados nos Açores foram registados na ilha do Pico, gerando assim um novo tipo de "isolamento". Adicionalmente, se for calculada a ocupação média por voo (soma dos passageiros no voo de ida e no voo de regresso), verifica-se que, no primeiro semestre de 2017, os voos para a ilha montanha registaram a terceira ocupação média mais elevada no arquipélago (111 passageiros), apenas superada pela Terceira (117) e São Miguel (185) — ilhas onde conseguem operar aviões com capacidade para mais passageiros do que no caso do Pico.
Em suma, os aviões que servem o Pico ou estão quase cheios ou então estão mesmo esgotados, o que significa que para haver um maior crescimento de passageiros aéreos para este destino, só se houver mais voos para a ilha montanha!
Haja saúde!
Post scriptum: Em anexo encontra-se um artigo, da autoria de Luís Paulo Ferreira, que demonstra bem a dificuldade em chegar à ilha do Pico neste verão de 2017.
Post scriptum (2): Dois dias depois desta publicação, a SATA anunciou um reforço de ligações aéreas com a ilha montanha neste verão de 2017.