quinta-feira, 10 de agosto de 2017

O verdadeiro significado do crescimento negativo aéreo no Pico


Segundo os dados do Serviço Regional de Estatística dos Açores (SREA) relativos ao transporte aéreo, a ilha do Pico foi a única do arquipélago que registou um crescimento negativo no que se refere aos passageiros aéreos desembarcados em julho de 2017 (quando comparado com o período homólogo de 2016).


Contudo, este resultado é totalmente inesperado face à realidade verificada na ilha montanha: o Pico tem os carros de aluguer esgotados, os restaurantes apresentam filas de espera, bem como alguns locais turísticos só estão disponíveis após reserva com alguns dias de antecedência. Mais do que isso, os voos para a ilha montanha têm estado completamente cheios, sendo que o destino Pico é aquele que esgota mais rapidamente nos Açores.

Mas como é possível, então, o Pico apresentar um crescimento negativo se está tudo esgotado? Analisando com mais calma os voos efetuados para a ilha montanha, em julho de 2017, é possível chegar a uma conclusão surpreendente...

No mês em questão, foram efetuados 145 voos para a ilha montanha, todos operados pelo Grupo SATA: 16 territoriais (rota Lisboa/Pico — equipamento A320) e 129 interilhas (56 em equipamento Q200 e 73 em equipamento Q400) [dados obtidos através da app da SATA para iOS]. Atendendo aos lugares oferecidos em cada aeronave (160, 37 e 80 para o A320, Q200 e Q400, respetivamente), bem como aos passageiros desembarcados em cada tipo de voo (segundo dados do SREA), obtém-se uma taxa de ocupação de 98,2% nos voos Lisboa/Pico e de 95,5% nos voos interilhas, o que corresponde a uma taxa de ocupação global de 96,2% — vide tabela.

Voos Pico — julho 2017TerritoriaisInterilhasTotal
Lugares oferecidos2.5607.91210.472
Passageiros desembarcados2.5137.55610.069
Taxa de ocupação98,2%95,5%96,2%

Os dados são claros e objetivos: os voos com destino ao Pico estão cheios, o que reforça a surpresa pelo crescimento negativo verificado em julho de 2017. No entanto, falta fazer uma pequena mas significativa comparação: analisar o número total de lugares oferecidos em julho de 2017 nos voos para o Pico, 10.472, face aos passageiros desembarcados em julho de 2016 na ilha montanha, 10.896. Já descobriram a resposta ao porquê do crescimento negativo?

Em julho de 2017 foram oferecidos menos lugares nos voos para a ilha montanha do que os passageiros desembarcados em julho de 2016!

Por outras palavras, mesmo que todos os voos que aterraram no Pico em julho de 2017 estivessem lotados, seria sempre obtido um decréscimo nos passageiros desembarcados (-3,9%) face ao período homólogo de 2016!

Este é o verdadeiro significado do crescimento negativo aéreo no Pico: por mais que crescesse a lotação nos voos, as estatísticas diriam sempre que os passageiros decrescem! Esta conclusão, apesar de parecer absurda e de não se verificar em mais nenhuma ilha açoriana, é um facto bem real e comprova que não só a oferta aérea para o Pico não está ajustada à procura, bem como a ilha montanha é claramente a mais prejudicada no contexto regional em plena época alta!

Haja saúde!

Post scriptum: Este artigo foi publicado na edição n.º 22.169 do 'Diário Insular', de 11 de agosto de 2017, na edição n.º 41.347 do 'Diário dos Açores', de 13 de agosto de 2017, e na edição n.º 694 do 'Jornal do Pico', de 18 de agosto de 2017. Adicionalmente, este artigo foi mencionado na edição n.º 1.235 do 'Ilha Maior', de 18 de agosto de 2017.

[Post relacionado: Quando uma taxa de ocupação de 100% origina um crescimento negativo aéreo...]

2 comentários:

  1. Ivo,
    Mais uma análise de excelente qualidade.
    Parabéns!
    Um abraço
    Alvaro Lopes

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