segunda-feira, 27 de novembro de 2017

A chamarrita mais inesperada do mundo


San Diego, sul da Califórnia, Estados Unidos da América — num magnífico dia de sol e temperatura amena, como é habitual nesta cidade, estão reunidos todos os ingredientes para celebrar a união entre duas pessoas nascidas e criadas naquele país...

A cerimónia do casamento parece tirada de um filme de Hollywood: o celebrante (que atualmente até já recorre a um smartphone para o alinhamento da cerimónia) conversa com os noivos, fala do amor que os uniu e, no fim, diz a famosa frase: "I now pronounce you husband and wife; you may now kiss the bride!"

Após a oficialização do matrimónio, os convidados dirigem-se para o weeding reception (o copo-d'água). É chegada, então, a hora da primeira dança dos noivos. A noiva e o noivo lá tomam o seu lugar no centro da pista e começam a dançar. Os convidados encontram-se todos sentados à mesa e a aplaudir os noivos. Termina a música e eis que o noivo dirige-se ao DJ de serviço, sussurra-lhe algo e pega no microfone...

Antes de continuar a história, é importante voltar a referir que ambos os noivos são nascidos e criados nos Estados Unidos. Contudo, enquanto a família da noiva é totalmente americana, o noivo tem 100% sangue picaroto, pois todos os seus avós são naturais da ilha montanha. Além disso, ele tem imenso orgulho nas suas raízes, como adiante se verá.

O noivo começa a falar para todos os presentes, primeiro em inglês, seguindo-se a tradução em português, e diz que vai haver uma chamarrita do Pico, sendo que gostaria de convidar todos aqueles que a sabem bailar a se juntarem aos noivos...

Tem lugar, nesse momento, uma chamarrita à moda do Pico, com o noivo a ser o mandador (em português, claro), isto num casamento na América, a mais de 7700 km de distância da ilha montanha... Uau! Mas que bela surpresa que o noivo fez! E o à-vontade da noiva a bailar a chamarrita, ainda por cima tendo em conta o vestido que está a usar, é também admirável!

Enquanto assimilo tudo o que esta inesperada chamarrita significa, engano-me no passo... Sou prontamente corrigido pelo meu par: "one, two, left, right; it's easy, just follow me!" Fantástico! Não só a sabem bailar, como fazem questão de o fazer bem-feito! Dir-me-ão mais tarde, com um enorme sorriso no rosto, que a comunidade portuguesa de San Diego tem imenso orgulho na sua chamarrita.

O noivo cumpre com a tradição e termina este baile de roda com a expressão habitual: "olh'ó Pico!"

Sento-me e reflito novamente sobre o que ali se passou... Quase do outro lado do mundo da ilha do Pico, num salão onde metade das pessoas (ou talvez mais) não percebe português, um casal de jovens americanos recorre à chamarrita para celebrar o início da sua vida a dois; se é certo que o noivo tem ascendência picarota, e procura manter viva a herança cultural dos seus avós, a verdade é que a noiva passou a fazer da chamarrita também a sua cultura. Além disso, sente-se que a comunidade emigrante envolvente tem orgulho nas suas raízes e está sempre pronta para ouvir o emblemático "olh'ó Pico!" É, sem dúvida, um momento extraordinário e que ficará para sempre gravado na memória!

A chamarrita do Pico já tinha entrado para o Guiness World Records. Agora foi a vez de ter lugar a chamarrita mais inesperada do mundo, demonstrando, assim, que o único baile espontâneo ainda vivo em Portugal não só está para ficar, como também se está a alastrar!
Olh'ó Pico!

Haja saúde!

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