No início deste mês de novembro de 2017, a Atlânticoline anunciou que, devido a intervenção da Portos dos Açores no Porto do Cais do Pico, em São Roque do Pico — mais concretamente, uma empreitada de substituição de cabeços ao longo de todo o cais acostável — a operação dos ferries com rampa de popa ficaria impossibilitada a partir do dia 3 de novembro. Este constrangimento levou, então, a empresa pública de transporte marítimo de passageiros a reprogramar o horário da Linha Verde (a qual liga Pico, São Jorge e Faial) e a suprimir várias escalas em São Roque do Pico. Prevê-se, ainda, que esta situação se mantenha até fevereiro de 2018.
Como é bem sabido, a impossibilidade de utilização da rampa ro-ro acarreta várias desvantagens, nomeadamente a incapacidade de embarcar/desembarcar viaturas, bem como o desconforto e maior dificuldade que os passageiros têm para entrar ou sair do navio através de uma rampa lateral, a qual muitas vezes está bastante inclinada. Por outro lado, a supressão de escalas em São Roque do Pico é comprovadamente desvantajosa para todos aqueles que queiram ir do Pico para São Jorge ou vice-versa.
Posto isto, com toda a certeza que as empresas públicas Portos dos Açores e Atlânticoline tudo fizeram para minimizar o impacto da empreitada de substituição de cabeços no Porto do Cais do Pico, de maneira a garantir a maior operacionalidade do principal porto comercial da ilha montanha. Como bom exemplo, saliente-se que, pelo que se sabe, não está prevista qualquer inoperacionalidade dos navios porta-contentores durante esta empreita — este é um planeamento de saudar e fundamental, pois o Porto do Cais do Pico é a principal porta de entrada de mercadorias na ilha montanha, sendo inclusivamente o terceiro porto a nível Açores com maior movimento de carga contentorizada.
Contudo, analisando com calma tudo o que foi dito até agora e combinando com o que se passa no terreno, muitas questões se levantam... Ressalvando que a segurança das escalas marítimas está sempre em primeiro lugar, e por isso esta empreitada de substituição de cabeços ao longo de todo o cais acostável é muito bem-vinda, mesmo assim, pode e deve analisar-se alguns pontos de vista de quem só deseja que o impacto das obras seja o menor possível para todos.
Em primeiro lugar, recorde-se que o Porto do Cais do Pico tem já um longo historial de inoperacionalidade da sua rampa ro-ro, mais concretamente esteve um ano e meio sem que os navios 'Gilberto Mariano' e 'Mestre Simão' pudessem utilizar a rampa de popa, sendo que esta situação ficou resolvida em maio de 2016 com a colocação de novos cabeços. Assim, é do interesse de todos — dono de obra, empreiteiro e operador marítimo — que se evite a repetição de um tão longo tempo de inoperacionalidade da rampa ro-ro em São Roque do Pico.
No entanto, a realidade no terreno mostra algo paradoxal; para além da montagem do estaleiro da obra, até agora apenas se verificou o seguinte:
- Nos primeiros dias da empreitada (de 3 a 6 de novembro) foram logo retirados três cabeços [imagens em anexo], curiosamente os que são indispensáveis para a operação dos ferries com rampa de popa da Linha Verde da Atlânticoline (cabeços esses que tinham sido colocados em maio de 2016, ou seja, há apenas 18 meses);
- Passados 10 dias desde o início dos trabalhos, tudo continua na mesma, isto é, retiraram-se os cabeços e nada mais foi feito no cais acostável [ver foto recente em anexo].
Assim, torna-se óbvio que a rampa ro-ro do Porto do Cais do Pico ficou logo nos primeiros dias inoperacional para os ferries em questão, pondo em prática as desvantagens enunciadas anteriormente.
Se, por um lado, é certo que existem variáveis que dependem do empreiteiro e que nem o dono de obra nem o operador marítimo têm controlo sobre as mesmas, por outro lado, uma melhor articulação de todas estas três entidades poderia ter permitido adiar a inoperacionalidade da rampa ro-ro do Porto do Cais do Pico — por exemplo, poder-se-ia ter adiado uma semana a remoção dos três cabeços e estar-se-ia na mesma situação atual em termos de obra feita, mas com mais benefícios e conforto para os passageiros. Por outras palavras, mesmo mantendo a alteração de horário que suprimiu várias escalas em São Roque do Pico e enquanto não se retirassem os cabeços, o embarque/desembarque dos passageiros poderia ser feito pela rampa, bem como as viaturas poderiam embarcar/desembarcar neste porto.
Mas, dirão alguns, as obras são mesmo assim: há que esperar para ver "mais ação". A verdade é que, junto ao antigo terminal marítimo da Madalena, onde estão a decorrer (há já algum tempo) obras semelhantes de substituição de cabeços, a "ação" é completamente diferente: ou os antigos cabeços apenas saem do lugar aquando da remoção de blocos de betão (inclusivamente mantendo os cabeços acoplados a esses blocos); ou os antigos cabeços mantém-se ainda no lugar, mesmo junto a zonas parcialmente intervencionadas [vide fotos em anexo]...
Conclusão: a vila de São Roque do Pico tem fama de esperar e esperar e continuar esperando para ter obras marítimas, sobretudo atendendo à maior e mais importante de todas — o novo terminal marítimo; todavia, como não há regra sem exceção, na mais recente empreitada no seu porto comercial, o curioso é que, até agora, foi extremamente célere logo a parte da intervenção que mais reduz a operacionalidade portuária — a remoção de cabeços!
Em suma, o Porto do Cais do Pico — já batizado no passado como um porto do outro mundo — está e vai continuar a dar muita dor de cabeços...
Haja saúde!
Post scriptum: No dia 21 de novembro de 2017, começou (efetivamente) a substituição de cabeços no Porto do Cais do Pico.
Post post scriptum: Eis o stop feito ao contador de quanto tempo esteve inoperacional a rampa ro-ro do Porto do Cais do Pico antes das escalas dos navios 'Aqua Jewel' e 'Gilberto Mariano' em 4 de maio de 2018.
Pois é.
ResponderEliminarJá fiz alguns comentários sobre certas situações em que alguns "senhores do Faial", teimam em ver o Pico como uma coutada, em que os "capitães donatários", se fazem muito amigos dos da Fronteira, ex. férias de verão, sopas, adegas,etc.
É ler as redes sociais e anotar os comentários sobre o aumento da pista do Pico.Picoenses que renegaram as suas Famílias e que são os picoenses, mais faialenses que há. E falam em Ilhas irmãs. Em quê, quando a lancha só tem um sentido.
Paciência e que Deus lhes perdoe porque ao fim e ao cabo o Pico é uma das Maravilhas de Portugal, que eles têm como pano de fundo.
Um abraço, Dr Ivo pelo excelente trabalho apresentado, sem muitos milhões.