terça-feira, 17 de abril de 2018

Ponderando sobre juntas médicas no Pico


A realização de juntas médicas de incapacidade para o trabalho é feita por três médicos: dois são do exterior, sem conhecimento da situação clínica dos paciente, e o terceiro médico é o profissional de saúde que acompanha regularmente cada doente.

De forma a poupar recursos financeiros à Região (e, por inerência, a todos nós), as juntas médicas relativas aos pacientes do Pico e do Faial são feitas na mesma altura, de forma a aproveitar a presença dos dois médicos externos, por exemplo, provenientes da ilha de São Miguel.

Se, à partida, a ideia de poupança é bem-vinda, a verdade é que mesmo assim é possível tomar decisões que conseguem causar mais incómodos aos doentes e serem mais onerosas para a Região. Confusos? Então analise-se um caso concreto que ocorreu recentemente [ver vídeo em anexo].

Dois médicos, oriundos de São Miguel, vêm integrar as juntas médicas do Pico e do Faial. No caso da ilha montanha, 14 pacientes têm o seu caso em análise, sendo que (no conjunto) são 5 os médicos que regularmente os acompanham; no caso da ilha azul, existem 7 pacientes que vão à junta médica, acompanhados de 2 médicos. De entre as várias formas de organização destas juntas médicas, destacam-se três:
  • Opção 1 — os médicos externos chegam de avião a uma ilha, efetuam lá as respetivas juntas médicas, vão de barco para a outra ilha e finalizam o seu trabalho (eventualmente ainda regressam à primeira ilha para apanharem o avião de volta, devido a questões de poupança no bilhete de avião) — esta opção implica a compra de 2 bilhetes de barco (eventualmente mais 2 de regresso à primeira ilha, como explicado anteriormente);
  • Opção 2 — os médicos externos vão só ao Pico e os pacientes do Faial, bem como os respetivos médicos, deslocam-se à ilha montanha (ida e volta) — esta opção implica a compra de (7+2)×2 bilhetes de barco;
  • Opção 3 — os médicos externos vão só ao Faial e os pacientes do Pico, bem como os respetivos médicos, deslocam-se à ilha azul (ida e volta) — esta opção implica a compra de (14+5)×2 bilhetes de barco.
Considerando o preço de 3,60 € da viagem de ida entre Pico (Madalena) e Faial (Horta), as diferentes opções têm o seguinte custo no que respeita ao transporte marítimo:
  • Opção 1 — 7,20 € (ou, no máximo, 14,40 €);
  • Opção 2 — 64,80 €;
  • Opção 3 — 136,80 €.
Além do ponto de vista económico, a Opção 1 tem a vantagem de ser a que causa menos transtornos aos pacientes, pois permanecem sempre na sua ilha (é de salientar que alguns estão com mobilidade reduzida). Por outro lado, a Opção 3 é a mais desvantajosa, quer em termos de custos para a Região, quer em termos de incómodos com viagens para a maioria dos pacientes.

Posto isto, qual foi a opção escolhida? A Opção 3, a mais cara e que mais transtornos causa aos pacientes, nomeadamente aos picarotos!

Por outro lado, se tivesse sido escolhida a Opção 1, a Região teria poupado 122,40 € (136,8 € - 14,4 €) e os pacientes do Pico e do Faial seriam atendidos nas suas respetivas ilhas!

Em suma, e por incrível que possa parecer, um melhor serviço de saúde também pode ser mais económico!

Haja saúde!

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