Eu fui ao Pico, esquivei-me,
Ai sim esquivei-me, não me fui registar...
Antes de subir não sabia que é obrigatório,
É obrigatório fazer o registo e pagar!
Faz favor, perdoem este errozinho,
Um errozinho que dizem ser recorrente...
Olhem qu’eu paguei logo quanto desci,
Quanto desci porque p’ra cima o caminho foi diferente!
Eu fui ao Pico, e tirei uma selfie,
Ai sim uma selfie, para ter uma lembrança...
A foto foi no topo da montanha,
Ó sim d’aquela qu’eu subi sem equipamento de segurança!
Faz favor, perdoem este errozinho,
Um errozinho que não fez muito mal...
Porque se algo me acontecesse,
Eu era evacuado do Pico pr’ó Faial!
Inspirado no tradicional "
Pézinho do Pico", as estrofes anteriores pretendem transmitir uma visão descontraída da notícia que marcou este final de verão de 2018, onde foi relatado que o presidente da Câmara Municipal de Lisboa,
Fernando Medina, entrou de forma irregular na montanha da ilha do Pico.
Mais concretamente, o semanário picoense '
Ilha Maior' noticiou que Fernando Medina se deslocou, em julho passado, ao sopé do ponto mais alto de Portugal, contornou a Casa da Montanha e subiu à revelia das regras definidas pela Direção Regional do Ambiente, sem transmitir à entidade que coordena as subidas e sem o equipamento de segurança que é disponibilizado a todos aqueles que sobem a montanha do Pico de forma autónoma.
Segundo foi apurado, Fernando Medina ia subir acompanhado de um guia mas não chegou a tempo de acompanhar o grupo, ficando assim sujeito às
regras da subida autónoma. Em concreto, estas definem que a subida tem início na Casa da Montanha, ponto de paragem obrigatório, onde é efetuado o registo e controlo das subidas, também como forma de garantir que a capacidade de carga máxima da montanha não é ultrapassada (existe uma capacidade máxima de carga de 320 visitantes por dia, bem como uma capacidade de carga em simultâneo — entre 120 a 200 pessoas — as quais podem obrigar a um período de espera até ser permitida a subida).
Acontece que, no momento em que Fernando Medina pretendia iniciar a subida ao ponto mais alto de Portugal, a opção de subir de forma autónoma estava esgotada e mais de 50 pessoas esperavam por uma vaga. Assim, ao contornar os procedimento estabelecidos pelas entidades regionais, Fernando Medina não teve de esperar pela sua vez, não levou consigo um localizador GPS (que monitoriza as pessoas ao longo de trilho e que serve para garantir a segurança destas), bem como as autoridades desconheciam que Fernando Medina (e outras duas pessoas) se encontravam na montanha do Pico.
Ao jornal '
Observador', fonte do gabinete de Fernando Medina esclareceu que "ele registou tudo quando desceu, quando soube que tinha de se registar. Tinha uma marcação para ir com um guia, perdeu-se no caminho, chegou atrasado. Desencontraram-se onde era feito esse encontro. Atrasaram-se, tinham de partir e partiram. Quando desceu foi informado que tinha de se registar. Registou-se e pagou. Disseram-lhe que era um erro recorrente."
Em todo o caso, a Inspeção Geral do Ambiente abriu um processo de contraordenação a três pessoas de nacionalidade portuguesa — dois homens e uma mulher –, todos residentes em Lisboa, que "liquidaram as taxas no momento da descida". Caso venham a ser punidos, a multa varia entre os 200 e os 4.000 euros.
Seja qual for o desfecho deste caso, uma coisa é certa: o exemplo dado pelo presidente da maior câmara do país não foi feliz; quer haja lugar ao pagamento de multa ou não, alegar o desconhecimento das regras, neste caso do
regulamento de acesso à montanha do Pico, não deve servir de desculpa para não cumprir as mesmas — quando não se sabe, pergunta-se, e no caso do ponto mais alto de Portugal, onde existe a Casa da Montanha para prestar apoio e esclarecimentos aos montanhistas, não faz sentido, de todo, não a visitar quando se sobe o Pico.
Recordando o
pagamento de uma promessa do Clube Desportivo Santa Clara, sediado na ilha de São Miguel, onde a equipa principal de futebol subiu a montanha do Pico devido a ter ascendido ao principal escalão do futebol português, isto numa altura em que os voos estavam esgotados para a ilha montanha mas onde foram efetuadas ligações aéreas extra só para o pagamento desta promessa, aliando isso a este "errozinho" de Fernando Medina, surge logo um desabafo por parte de muitos
picarotos: quando algo esgota deveria ser para todos, mas parece que é só para alguns...
Haja saúde!
[
Post scriptum: Em março de 2019,
Fernando Medina foi multado em 500 euros por ter subido ao Pico sem autorização.]