No coração da vila de São Roque do Pico, sob o olhar do D. Dinis, encontra-se o "Cais Velho", aquele que foi outrora "Porto do Cais do Pico" e que durante décadas serviu de porta de entrada e saída da ilha montanha.
Atualmente, a designação "Porto do Cais do Pico" pode ter sido transferida para o principal porto comercial picoense (que lhe fica próximo e que foi construído sobre a antiga Ponta da Laje em meados do século passado), mas a história do "Cais Velho" não se perdeu; este pequeno porto é, sem qualquer dúvida, um dos principais responsáveis no reforço do simbolismo do nome atribuído ao lugar do Cais do Pico há mais de quatro séculos, lugar este que tem desempenhado, ao longo dos tempos, um papel de relevo no contexto da ilha montanha.
Graças a uma partilha do amigo Francisco Medeiros, a quem agradeço, apresenta-se, em anexo, umas memórias sobre o "Cais Velho". Adicionalmente, também se apresentam imagens e vídeos relacionados, os quais foram extraídos dos seguintes posts:
- Rua do Cais do Pico na década de 60 do século passado
- Cais Velho
- Iates na baía do Cais do Pico
- Descubra as diferenças — Cais do Pico
- Iates comerciais no Cais do Pico há 100 anos
- Vídeo do Cais do Pico em 1938
- Botes baleeiros no Cais do Pico em 1946
- Caça à baleia no Cais do Pico em 1946
- Documentário "Les hommes de la baleine" ("Os homens da baleia")
- O Despacito do D. Dinis
- Aos seus lugares... prontos... partida dos garajaus!
- Caminhos de ferro do Cais do Pico
- Ilha do Pico em 1998
- Porto(s) do Cais do Pico
Haja saúde!
PORTO DO CAIS DO PICO
A freguesia de São Roque do Pico está dividida em três lugares: a sede do concelho no lugar do Cais o Pico, onde está sediada toda a Administração Publica; São Roque, onde se situa a Igreja Paroquial; e São Miguel Arcanjo, em local mais elevado, onde está situada a ermida do Santo do mesmo nome. Com a frente virada a Nordeste, esta freguesia é um dos locais mais próximo da ilha de São Jorge, distando cerca de 10 milhas náuticas da Vila das Velas.
Quando eu cheguei ao Cais do Pico, em 1959, o porto era uma enseada, bastante ampla, que tinha a Norte uma ponta, chamada Ponta da Laje, e ao Sul a Ponta Rasa, onde tinha um moinho de vento bastante antigo, o qual já não estava em funcionamento. A base antiga do moinho foi recentemente aproveitada e o moinho reconstruído, o que dá ao local uma paisagem pitoresca bastante agradável. Em São Miguel Arcanjo há um miradouro de onde se avista toda a freguesia de São Roque do Pico, bem como a parte da freguesia de Santo António que fica mais a Noroeste.
Ao fundo da enseada tem o Porto do Cais do Pico em forma de triângulo escaleno, com um angulo virado a Nordeste arredondado, o lado Norte acostável é mais comprido com 29 metros e tem uma escaleira. O outro lado, virado ao Sul, tem também uma escaleira. Este lado, o segundo em comprimento, com a pedra da costa formam um caneiro que dá acesso a um varadouro em pedra, muito amplo e bem construído, resistente a todos os mares e às enxurradas das chuvas.
O maior barco que atracava no Cais era o "Terra Alta", tinha 31 metros aproximadamente e o cais tinha só 29 metros. Entretanto, alteraram o cais e este já não está como era quando cheguei!
O cais foi melhorado em 1942, para uma cota mais elevada, pois com pouco mar ficava todo alagado e pela ponta arriavam os botes quando aparecia baleia. Dado à sua baixa cota aconteceu que uma pequena lancha das Velas de São Jorge, com passageiros, quando atracou veio uma vaga de mar e pô-la sobre o cais, nisto os passageiros saíram, e noutra vaga os marítimos que ali estavam empurraram-na novamente para o mar.
A chalupa "Helena", no período em que passou na pesca do atum, varou ali num dia que havia mar do Noroeste. Bateu com a roda de proa numas pedras existentes do lado de fora do Cais, começou a meter água e teve que ser varada rapidamente. Era seu mestre José Ramos da Silva.
O mar de Norte e Noroeste, de vez em quando, era dono e senhor do varadouro e obrigava a retirar todas as embarcações ali varadas. Além disso, os proprietários dos prédios vizinhos tinham que pôr tapumes nas portas do rés do chão.
Ali varavam-se dois barcos de carga e duas lanchas para passageiros, duas lanchas da baleia e perto de 20 embarcações de pesca local. Quando o mar do Norte ou do Noroeste dificultavam as operações de embarque ou desembarque de passageiros, as lanchas ficavam a pairar próximo do Cais e era pela observação da rebentação do mar na Ponta da Laje que se faziam os sinais para as embarcações atracarem ou se afastarem do cais, indicações estas dadas pelos marítimos mais antigos da localidade, com experiência de muitos anos.
Hoje o varadouro é parque de viaturas automóveis!
Conheci muitos e bons marítimos no Cais do Pico, mestres da pesca e da caça à baleia, com a face tisnada pela água salgada. Não me refiro a todos porque eram muitos, mas vou citar os das famílias mais numerosas: os Canecas, os Aldeias, os Januários e os Fulas — Gente com um pé em terra e outro no mar.
Hoje já não é assim, pois as embarcações quando chegam fora dos portos, e há vagas de mar alteroso, vão entrando sempre; às vezes embrulham-se os dois e vão parar ao mesmo sítio...
Francisco Medeiros
Whaling. days 1946 (This video may be upsetting to some.)
Posted by Paul B Da Rosa on Sunday, March 11, 2018
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