Em 2018, a ilha do Pico prossegue com o crescimento turístico sustentado que se tem verificado desde a liberalização das
gateways de Ponta Delgada e Terceira, apoiado em crescimentos quer nas taxas de desembarques e embarques, quer nas dormidas. Recorde-se que o Aeroporto do Pico é servido regularmente pela SATA Air Açores (rotações com Ponta Delgada e Terceira) e Azores Airlines (rotações com Lisboa). Apenas em Agosto de 2018 foram movimentados 22.331 passageiros, um recorde para o aeroporto da ilha montanha, o que representou também o maior crescimento homólogo a nível regional (20,2%).
Focando atenções nas taxas de embarque e desembarque de passageiros no Verão IATA (que vai de final de Março a final de Outubro), de acordo com dados do Serviço Regional de Estatística dos Açores (SREA), a taxa de ocupação das rotações Lisboa-Pico-Lisboa (3 rotações semanais às 2ªs, 4ªs e Sábados) variou entre os 67% em Outubro de 2017 (mínimo) e os 92% em Agosto de 2017 (máximo). Por seu turno, no Verão IATA de 2018, a taxa de ocupação variou entre os 77% (Abril, Maio e Junho) e os 93% em Agosto, sendo que de meados de Junho até final de Agosto existiu uma quarta rotação semanal. Apesar desse incremento da oferta, não se verificaram quebras significativas nas taxas de ocupação, bem pelo contrário.
Face a este incremento nas taxas de ocupação, no final de Setembro surgiram indicações (através de horários publicados no próprio
website da Azores Airlines) de que a operação da Azores Airlines entre Lisboa e Pico poderia ser reforçada no próximo Verão IATA 2019, com 4 rotações semanais às 2ªs, 4ªs, 6ªs e Sábados em Abril, Maio e Outubro (mais uma rotação semanal em comparação com o Verão IATA 2018) e com 6 rotações semanais (isto é, sem rotação aos Domingos) no pico do Verão IATA, ou seja, de Junho a Setembro (em 2018 foram 4 rotações semanais de meados de Junho até ao fim de Agosto).
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Legenda: 4 rotações semanais entre Abril, Maio e Outubro de 2019 (época intermédia) – horários simulados no site da Azores Airlines no final de Setembro de 2018. |
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Legenda: 6 rotações semanais nos meses de Junho, Julho, Agosto e Setembro (pico do Verão) – horários simulados no site da Azores Airlines no final de Setembro de 2018. |
Infelizmente, essas intenções não passaram da fase de planeamento. Os últimos dados disponibilizados pela Azores Airlines apontam para uma manutenção, em 2019, das frequências de 2018, apenas com a salutar extensão da 4ª rotação semanal (às quintas-feiras) até final de Setembro. Com base nos números conhecidos, para além do reforço mencionado em Setembro, seria de esperar o reforço do número de rotações nos meses de Julho e Agosto, com o incremento de (pelo menos) mais uma rotação semanal.
Se somarmos as ligações entre Lisboa e as ilhas do Triângulo previstas pela Azores Airlines para o próximo Verão IATA, assiste-se, no entanto, a um reforço de voos para a
gateway da Horta na época média (Abril, Maio, Junho e Setembro) quando a oferta de 2018 tanto para o Horta, como para o Pico, respondeu à procura. Por outro lado, a redução prevista para a Horta em Julho e Agosto e a estagnação da oferta no Pico nesses meses é motivo de grande preocupação para as ilhas do Triângulo. Não existe sequer (até ver) a preocupação de reforços pontuais, tais como Festas da Madalena, Cais Agosto, Semana do Mar e Semana dos Baleeiros (Julho e Agosto).
Assumindo um
break-even na taxa de ocupação de 75% nas rotações entre Lisboa e Pico (ou seja, os custos com a operação estão cobertos a partir desta percentagem de ocupação da aeronave; este é um valor estimado, não confirmado oficialmente pela Azores Airlines), verifica-se que, atualmente, a operação apenas é deficitária em 4 meses do ano, de Novembro a Fevereiro, o que justifica a manutenção das Obrigações de Serviço Público (OSP) para as
gateways não liberalizadas (Pico incluído). No entanto, são excelentes notícias não só para a Azores Airlines, mas também para as forças vivas do Pico no que ao combate da sazonalidade diz respeito, já que se verifica uma diminuição do número de voos em que a ocupação é deficitária.
Ao aumento da oferta nas estações de Verão IATA para o Pico nos últimos anos, a procura tem correspondido. Ou seja, não é pela
gateway do Pico que financeiramente a Azores Airlines se irá ressentir; bem pelo contrário, há oportunidade de capitalizar mais a rota Lisboa-Pico-Lisboa no pico do Verão, haja disponibilidade operacional da Azores Airlines para o fazer.
Mas as acessibilidades à ilha do Pico não devem ser melhoradas apenas na rota Lisboa-Pico-Lisboa. Nos últimos anos, sobretudo após a liberalização da
gateway de Ponta Delgada, a rota Ponta Delgada – Pico – Ponta Delgada da SATA Air Açores tem assumido uma importância extraordinária. Se do lado da Azores Airlines é mais difícil aumentar a oferta (por várias razões), o mesmo não se pode dizer da SATA Air Açores, que deve rever em alta e atempadamente os seus horários para o pico do Verão de 2019 com base no histórico dos anos anteriores. Um bom começo seria alterar o equipamento utilizado na primeira rotação diária entre Ponta Delgada e o Pico, de Q200 (de 37 lugares) para Q400 (de 80 lugares). É que entre 9 de Julho e 5 de Setembro a SATA Air Azores teve de realizar 31 rotações extra (62 voos) entre Ponta Delgada e Pico, tendo-se esta situação verificado também em anos anteriores. A referida alteração de equipamento disponibilizará mais lugares e permitirá diminuir o número de ligações extra.
As OSP tanto nos voos territoriais (entre Lisboa e Pico) e inter-ilhas (entre Ponta Delgada e Pico, bem como entre Terceira e Pico) precisam de ser revistas antes de novos contratos de concessão das rotas, uma vez que estão desfasadas da atual realidade. Sobre este assunto, mais haverá a escrever.
No entanto, é preocupante o silêncio dos deputados eleitos pela ilha do Pico na ALRAA e dos representantes das câmaras municipais da ilha montanha sobre este assunto. As poucas intervenções são na maioria das vezes pouco construtivas, inconsequentes, desfasadas no tempo (por exemplo: a altura de planear o Verão IATA 2019 é agora e não em Junho, Julho e Agosto de 2019, quando porventura surgirão a maioria das críticas e falta de lugares) e, não raras vezes, a reboque de outras iniciativas apartidárias. É necessário que os nossos representantes se sentem à mesa com a tutela e com a administração do Grupo SATA, informem-se sobre os assuntos, conheçam os detalhes, para que possam discutir de uma forma séria e construtiva o futuro das ligações aéreas para a ilha do Pico.
Bruno Rodrigues
Ivo Sousa
Luís Ferreira
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Haja saúde!
Post scriptum: Este texto foi igualmente publicado na edição n.º 41.716 do 'Diário dos Açores', de 10 de novembro de 2018.