Do ponto de vista do negócio da aviação, um dos mais importantes dados estatísticos é a taxa de ocupação, isto é, o número de passageiros transportados face aos lugares oferecidos. A taxa de ocupação resulta normalmente de uma conjunção de fatores — preço, horários, aeronaves utilizadas, etc. — cuja relação entre eles não é de fácil modelação. Em todo o caso, esta estatística permite perceber, de certa forma, qual o sucesso de determinada rota e inferir um pouco sobre a atratividade de um dado destino.
Graças ao Anuário da Aviação Civil relativo ao ano de 2017, recentemente divulgado pela Autoridade Nacional da Aviação Civil (ANAC), é possível calcular a taxa de ocupação para cada aeroporto açoriano, ou seja, a taxa de ocupação média considerando todos os voos que serviram determinada ilha dos Açores [relação entre o total dos passageiros transportados num ano e os lugares oferecidos nesse mesmo período].
Analisando com mais detalhe, verifica-se que é possível agrupar os resultados em três grupos:
- Ilhas onde, em média, mais de metade dos lugares dos aviões estiveram vagos, ou seja, com taxas de ocupação inferiores a 50% — Corvo (21%), Flores (37%) e Graciosa (40%);
- Ilhas onde, em média, os aviões estiveram praticamente meio cheios — São Jorge e Faial (ambas com uma taxa de ocupação de 55%);
- Ilhas onde, em média, cerca de dois terços dos lugares nos aviões foram ocupados — Santa Maria (61%), Pico (63%), Terceira (67%) e São Miguel (69%).
Atendendo agora ao pódio da taxa de ocupação aérea nos Açores em 2017, o qual é ocupado pelas ilhas São Miguel, Terceira e Pico, não deixa de ser interessante recordar que, enquanto as duas primeiras ilhas foram as que mais cresceram no que concerne ao movimento de passageiros aéreos em 2017 (face a 2016), a ilha montanha foi precisamente a que registou o menor crescimento percentual nesse mesmo ano. Dito de outra forma, parece haver um certo contrassenso relativamente ao Pico: a taxa de ocupação foi das mais altas dos Açores, mas os passageiros transportados foram quase os mesmos relativamente ao ano anterior...
A verdade é que foram inúmeras as vicissitudes registadas na ilha montanha ao longo de 2017 relacionadas com o transporte aéreo, nomeadamente uma oferta que não esteve ajustada à procura e por ter sido a ilha mais prejudicada no contexto regional em plena época alta — eis alguns exemplos:
- No início da época alta de 2017, quase metade dos dias (45%) com voos totalmente esgotados nos Açores foram registados na ilha do Pico, gerando assim um novo tipo de "isolamento" da ilha montanha sem paralelo na região;
- Por outro lado, não só as simulações de viagens no "pico" desse verão mostraram que as viagens aéreas para o Pico estavam mais caras quando comparadas com destinos vizinhos, mas também dados oficiais posteriores comprovaram que o valor médio da tarifa atingiu o valor mais elevado nos voos para a ilha montanha;
- As estatísticas de julho 2017 mostraram que foram oferecidos menos lugares nos voos para a ilha do Pico do que os passageiros desembarcados em julho de 2016, ou seja, por mais que crescesse a lotação nos voos, as estatísticas diriam sempre que os passageiros decrescem, dando assim origem a um "crescimento negativo";
- A situação anterior, um tanto ou quanto paradoxal, atingiu o cúmulo em agosto, onde voos com taxas de ocupação de 100% originaram um decréscimo nos passageiros transportados para a ilha montanha;
- No final de 2017, o Pico voltou a registar, durante a época natalícia, menos voos disponíveis do que qualquer outra ilha dos Açores.
Mesmo assim, a ilha montanha registou a terceira taxa de ocupação mais elevada nos Açores, apenas superada por ilhas onde operam companhias low-cost (as quais habitualmente contribuem com taxas de ocupação muito elevadas), o que significa que os voos que serviram o Pico em 2017 estiveram bem cheios, isto quando os mesmos não esgotaram.
Resumindo, os números não enganam: o Pico está na moda!
Haja saúde!
Post scriptum: Este texto foi igualmente publicado na edição n.º 41.771 do 'Diário dos Açores', de 16 de janeiro de 2019.
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