Está lançada a discussão: investigadores da Universidade dos Açores consideram que a instalação de um teleférico na montanha do Pico poderá ser uma solução para reduzir os impactos ambientais, causados pelo aumento do número de visitantes; por outro lado, a Associação de Guias de Montanha está contra e avisa que o teleférico terá um impacto paisagístico negativo.
Analisemos, então, alguns factos sobre esta proposta. Em primeiro lugar, vale
a pena recordar que,
entre muitas outras coisas, a montanha da ilha do Pico é uma
Zona Especial de Conservação da Rede Natura 2000 e uma das
7 Maravilhas Naturais de Portugal, distinções estas que poderiam ter de ser reavaliadas com o eventual impacto
causado por um teleférico. Ademais, o trilho de acesso ao topo, ao ponto mais
alto de Portugal, foi
considerado como estando no top 10 mundial, bem como esta subida integra o restrito lote das
40 experiências em Portugal para se fazer pelo menos uma vez na vida — isto significa que, com um teleférico (e com um eventual fecho do
trilho), o Pico deixaria de ter algo único no mundo, para passar a ser apenas
mais um ponto de elevada altitude ao qual se sobe facilmente, ou seja, igual a
tantos outros por esse planeta fora.
Considerando agora as motivações para a sugestão de um teleférico na ilha
montanha, elas baseiam-se no crescimento dos visitantes, os quais já
ultrapassaram os 20 mil por ano, "o suficiente para tornar viável a construção
de um teleférico", isto com o intuito de "reduzir as subidas a pé e promover as
subidas pelo menos até à cratera"; além disso, o cliente pagaria "20 a 30
euros", evitava-se a "degradação ambiental", bem como estaria no topo "uma
estação científica que sirva o mundo", tudo isto através de um investimento de
"5 milhões de euros", estimando-se um "aumento de 60% de subidas à montanha".
Vale a pena examinar agora com mais detalhe estas motivações.
A montanha da ilha do Pico não tem representado uma fonte de receita líquida para os
cofres públicos, sendo que para esse efeito não seria necessário um teleférico,
bastando aumentar as
taxas associadas a quem quer subir a montanha
— por outras palavras, se existe procura pelo ponto mais alto de Portugal,
então um aumento do valor das taxas de escalada traria mais receita sem
grandes impactos na procura. Adicionalmente, numa visão unicamente
mercantilista, os hipotéticos 5 milhões a investir demorariam cerca de 30 anos
para serem pagos na íntegra (isto assumindo um lucro líquido de 5 euros por subida e já
contanto com o aumento estimado de 60%). Em termos de degradação ambiental, a
maior preocupação atual é para com o Piquinho, o qual já conta com vários
fatores de dissuasão para quem sobe, tais como uma taxa adicional e uma limitação temporal de permanência; ao se subir de teleférico até à cratera (e mesmo se não houvesse o aumento
estimado de 60%), certamente muitos mais seriam aqueles que, em termos de
esforço físico, apenas teriam de subir o Piquinho para chegar ao ponto mais
alto de Portugal, o que naturalmente aumentaria a sobrecarga sobre esta
preciosidade natural. Sobre uma estação científica presente na montanha do
Pico, vale a pena recordar que
já houve uma estação de observação da atmosfera do Atlântico Norte
implantada na cratera, a qual não necessitou de um teleférico para lá chegar,
mas sim de um helicóptero apenas.
Por fim, mas não menos importante, há que referir os factores de impacto
ambiental, quer do ser humano na natureza, quer desta nas infraestruturas: o
que seria da montanha do Pico com as "artificialidades" das estruturas de um
teleférico, continuaria a ser olhada como uma montanha totalmente natural? A
sua sombra, que se projeta na terra e no mar, tão característica, tão bela e
tão fotogénica, não passaria a incluir umas torres cá e lá? E as intempéries
que assolam a montanha, não poderiam danificar o teleférico, eventualmente
necessitando de inúmeras reparações anuais?
Em suma, propõe-se trocar pegadas por cabos aéreos, bem como uma experiência
de montanhismo por comodismo, isto na Reserva Natural da Montanha do Pico, para depois se manter o convite a um turismo de natureza... Enfim, há
muitas ideias que sobem à cabeça de alguns, mas esta parece daquelas que vêm
de teleférico, daqueles que sobem... mas logo depois descem!
Haja saúde!
Post scriptum: Este artigo foi igualmente publicado na edição n.º 42.381 do 'Diário dos Açores', de 20 de janeiro de 2021.
Haja saúde!
Post scriptum: Este artigo foi igualmente publicado na edição n.º 42.381 do 'Diário dos Açores', de 20 de janeiro de 2021.
Not content with putting a massive ugly car park right into the middle of the once picturesque view of Faial and the Two Brothers, it is now proposed to stick huge grey cement pillars cables and aluminium gondolas into the site of the mountain. I suppose it goes with the same mentality that dumped the disgusting Lajes cement school block into what was a postcard view of Portugal's highest mountain. The same grey mentality that tore the heart and then the soul out of Madalena, first with the vile grey cement terminal block where a marina should have been and then ripping out the amazing stones in front of the church and replacing them with some soulless angular grey surface of zero aesthetic or practical value. Is there no one left who understands the meaning of "Picturesque", "unspoilt", and "natural"?
ResponderEliminarFor the benefit of modern day "Architects": Preserving the above means preserving irregularity and using colours that blend into nature. Quite a simple concept really...
Como diz o português: Por amor de Deus, não façam isso.
ResponderEliminarVão estragar a montanha. O turismo vai aumentar e muito desse turismo não respeita a natureza. Basta ver muitos locais onde alguns danos são irreversíveis. Para além do impacto visual, de todos os cabos de instalação, etc.
Se consideram que os montanheiros fazem danos, imaginem os outros.
Reduzam o nº diário, como já existe noutros parques naturais, em que há limite de entradas.
A Montanha do Pico, é única e deve ser preservada como tal. Respeitem-na
A criação do teleférico não implica a fecho do trilho e isso nunca foi referido na reportagem. Aliás, mais a baixo escreves que o propósito é "reduzir as subidas a pé e promover as subidas pelo menos até à cratera".
ResponderEliminarAgradeço a chamada de atenção; o post já foi corrigido em conformidade.
ResponderEliminarHaja saúde!