Faz hoje precisamente um ano que a COVID-19 chegou à ilha montanha, uma situação que veio alterar o dia-a-dia picaroto. Contudo, antes de 24 de março de 2020 já se verificava uma redução do movimento de pessoas no Pico, fruto da confirmação da chegada do vírus SARS-CoV-2 aos Açores em 15 de março do ano passado — ou seja, apenas nove dias separaram o primeiro caso açoriano desta doença do primeiro caso registado na ilha montanha.
O impacto da COVID-19 no Pico advém também do impacto da mesma no arquipélago: primeiro foram restringidas as ligações aéreas (quer interilhas, quer territoriais) e marítimas regulares nos Açores, acabando mesmo por serem suspensas mais tarde. No entanto, após a confirmação do primeiro caso de COVID-19 na ilha montanha, ocorreram restrições nas carreiras públicas regulares de transporte de passageiros no Pico, bem como foi reorganizado todo o serviço de saúde na ilha montanha — mais concretamente, após o fecho inicial dos Serviços de Atendimento Permanente das Lajes e de São Roque do Pico, estes reabriram em junho, embora em horário reduzido; em julho dá-se nova remodelação, a qual vigora ainda hoje na ilha montanha, e que resultou no funcionamento 24h da equipa SIV e mais presença física médica nos centros de saúde.
Em termos de ligações de/para o exterior do Pico, pese embora tenha havido, a partir do final de maio / início de junho, uma retoma gradual da (nova) normalidade (nomeadamente nas ligações aéreas e marítimas), acabou suspensa a operação sazonal de transporte marítimo de passageiros e viaturas. Por outro lado, houve a criação da Linha Branca, a qual veio ligar, por via marítima, todas as ilhas do Grupo Central dos Açores.
No que toca a festas e animações de rua, a COVID-19 teve um enorme impacto, pois as festividades estivais foram todas canceladas, incluindo as Festas do Divino Espírito Santo, algo que foi verdadeiramente inédito.
Em todo o caso, a estratégia de combate à COVID-19 no Pico deu os seus frutos, pois esta ilha foi (e continua a ser) um dos lugares do mundo menos afetado pela pandemia, não registando (até à data) qualquer óbito relacionado. Em particular, vale a pena mencionar algumas estatísticas relacionadas [outros dados estatísticos podem ser encontrados neste link]:
- Neste último ano registaram-se 53 casos de COVID-19 na ilha montanha, sendo que, felizmente, todos recuperaram;
- Apesar de o Pico, até ao momento, ser a terceira ilha com mais casos registados nos Açores, esses casos representam apenas cerca de 1,3% do total regional;
- Todos os concelhos da ilha montanha registaram casos positivos de COVID-19, pese embora haja uma distribuição não uniforme entre eles, nomeadamente foram registados 30 casos na Madalena, 17 em São Roque do Pico e 6 nas Lajes do Pico;
- Pode-se afirmar que houve seis vagas de COVID-19 na ilha montanha, atendendo à presença, ou não, de casos positivos no Pico;
- A primeira vaga, que terminou em maio, foi aquela onde os doentes (10) demoraram, em média, mais tempo a recuperar, designadamente cerca de 40 dias;
- A segunda vaga foi a mais longa de todas, tendo durado um total de 93 dias entre agosto e novembro (com 15 casos registados);
- A sexta (e mais recente) vaga, entre fevereiro e março deste ano, foi aquela onde se registaram mais casos, nomeadamente 18 pessoas no Pico positivaram para a COVID-19;
- Neste último ano a ilha montanha teve cerca de 69% dos dias com casos de COVID-19, com a particularidade de não ter registado qualquer caso nos meses de junho e julho de 2020.
Todavia, um dos momentos mais marcantes foi a chegada da vacina para a COVID-19 ao Pico, a qual teve lugar no início de fevereiro de 2021, mais concretamente 322 dias após a confirmação do primeiro caso de COVID-19 no Pico, 44 dias depois da chegada destas vacinas a Portugal e 41 dias depois da entrega nos Açores. Presentemente, cerca de 17% da população da ilha montanha já teve pelo menos uma inoculação contra o vírus SARS-CoV-2, o que não deixa de ser assinalável, isto quando cerca de 9% da população portuguesa já foi vacinada com pelo uma dose, sendo que nos Açores essa percentagem sobe para os 10%.
Existem também outras situações relacionadas com os efeitos da COVID-19 na ilha montanha que merecem ser destacadas: como o desembarque marítimo esteve interdito durante várias semanas, houve um iate de luxo que decidiu fundear ao largo do Pico, gerando muita curiosidade na população local ao longo de alguns dias; foi também com estupefação que se revelou evidente o desconhecimento, por parte da tutela, da realidade das grávidas da ilha montanha — aliás, registou-se um baby boom no Pico em 2020, algo bastante em contraciclo com a esmagadora maioria das restantes ilhas açorianas. Pela positiva, há a destacar a eleição do Pico como uma das nove ilhas europeias perfeitas para umas férias com distanciamento social, a eleição da ilha montanha como uma das cinco ilhas a descobrir em Portugal, Espanha e Itália e, bem recentemente, a referência por parte de um prestigiado jornal britânico para o facto de que "as vistas extraordinárias da montanha do Pico são apenas um dos motivos para visitar Portugal neste verão"; ademais, e apesar de não ter ocorrido os habitais bailes espontâneos de chamarrita, graças a um picaroto foi possível levar este baile para o mundo dos jogos de tabuleiro.
Por fim, ninguém sabe se o pico da pandemia de COVID-19 já passou, mas uma coisa é certa: um ano de pandemia já passou no Pico!
Haja saúde!
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