quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

Caixa Económica Picoense


Ao longo dos últimos 13 meses houve não um, nem dois, mas sim três encerramentos de balcões bancários no Pico, sendo que um deles representou inclusivamente o abandono da ilha montanha por parte desse banco. Enquanto uns dizem que esta é a evolução natural da banca, onde os serviços são prestados cada vez mais à distância, nomeadamente pela internet, outros afirmam que o fecho de sucursais representa um retrocesso no serviço de proximidade numa ilha com uma população particularmente envelhecida.

Independentemente das posições das partes, uma coisa é certa: estes encerramentos representam o mais recente capítulo da banca no Pico, uma história igualmente marcada pela existência da Caixa Económica Picoense, a qual operou durante cerca de 80 anos na ilha montanha e cujo passado se recorda agora.

Fundada em 1904, na Madalena, a Caixa Económica Picoense tinha por objetivos a abertura de sucursais em São Roque e Lajes, assim como libertar fundos para auxiliar a construção do hospital e asilo de Santa Maria Madalena.

Poucos anos após a sua fundação, em 1911, uma grave crise grassou a ilha, contribuindo para o levantamento anormal de capitais e para o aumento do clima de desconfiança sobre as instituições bancárias. A crise agravou-se com a paralisação dos negócios, diminuindo extraordinariamente as compras de propriedades e as amortizações dos mútuos contraídos. Em 1912, a Direção decide suspender a receção de depósitos, pois o pagamento de juros daria prejuízo, incrementando outras atividades. Com a entrada de Portugal na I Grande Guerra, o aumento substancial da emigração e o alastramento da crise a todo o distrito da Horta, tardava a normalidade das operações na caixa picoense. Em 1919, 10% do capital depositado a prazo passou para a ordem, como forma de minimizar o pagamento de juros.

Passados os períodos mais difíceis, a situação retomava lentamente a normalidade. Nos finais da década de 20, as operações mantinham-se limitadas. Em 1929, o capital inicial da instituição mantinha-se inalterado: 11.000$00 insulanos ou 8.800$00 fortes.

A crise nos princípios dos anos 30 criou novos embaraços numa instituição que, lentamente, recuperava. Com os acontecimentos vividos nas caixas económicas da Horta e noutras instituições bancárias dos Açores, a corrida aos depósitos e o clima de desconfiança voltou. Embora a Caixa Económica Picoense não registasse prejuízos, os lucros eram parcos e iam decaindo de ano para ano. Não obstante, em 1950, face à necessidade de instalações condignas e à retoma da normalidade, constrói instalações próprias.

Nos anos 60, as melhorias eram notáveis. Nos setores da agricultura e pecuária registavam-se várias liquidações de dívidas e também uma menor procura de crédito. No início dos anos 70, continuou a verificar-se o aumento dos depósitos na Caixa Económica Picoense e a constituição de inúmeros depósitos a prazo, permitindo o aumento do crédito concedido. O ano de 1974 foi um ano de viragem e, em 1975, foram reabertas as sucursais de Lajes e São Roque, anteriormente encerradas. O desejo expansionista da Caixa Económica Picoense acompanhava as tendências que se viviam no mercado financeiro nacional.

Em 1981 muda de instalações para enfrentar novos desafios e dar resposta ao desenvolvimento do negócio. Neste ano, adquire um edifício destinado à sucursal das Lajes.

Em 1983 termina o percurso a solo da Caixa Económica Picoense: juntamente com as Caixas Económicas da Praia da Vitória e da Ribeira Grande, integrou a Caixa Económica Açoreana; esta última, por sua vez, foi adquirida pelo Montepio Geral, em 1995.

Para a história fica então este legado da Caixa Económica Picoense, a instituição bancária que, muito provavelmente, será para sempre a única a alguma vez ter tido a sua sede na ilha do Pico.

[Fonte: Banco de Portugal]

Haja saúde!

Livro de cheques da Caixa Económica Picoense utilizado pela Empresa Barcos do Pico.

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