Ao longo dos últimos 13 meses houve não um, nem dois, mas sim três encerramentos de balcões bancários no Pico, sendo que um deles representou inclusivamente o abandono da ilha montanha por parte desse banco. Enquanto uns dizem que esta é a evolução natural da banca, onde os serviços são prestados cada vez mais à distância, nomeadamente pela internet, outros afirmam que o fecho de sucursais representa um retrocesso no serviço de proximidade numa ilha com uma população particularmente envelhecida.
Independentemente das posições das partes, uma coisa é certa: estes encerramentos representam o mais recente capítulo da banca no Pico, uma história igualmente marcada pela existência da Caixa Económica Picoense, a qual operou durante cerca de 80 anos na ilha montanha e cujo passado se recorda agora.
Fundada em 1904, na Madalena, a Caixa Económica Picoense tinha por objetivos a abertura de sucursais em São Roque e Lajes, assim como libertar fundos para auxiliar a construção do hospital e asilo de Santa Maria Madalena.
Poucos anos após a sua fundação, em 1911, uma grave crise grassou a ilha, contribuindo para o levantamento anormal de capitais e para o aumento do clima de desconfiança sobre as instituições bancárias. A crise agravou-se com a paralisação dos negócios, diminuindo extraordinariamente as compras de propriedades e as amortizações dos mútuos contraídos. Em 1912, a Direção decide suspender a receção de depósitos, pois o pagamento de juros daria prejuízo, incrementando outras atividades. Com a entrada de Portugal na I Grande Guerra, o aumento substancial da emigração e o alastramento da crise a todo o distrito da Horta, tardava a normalidade das operações na caixa picoense. Em 1919, 10% do capital depositado a prazo passou para a ordem, como forma de minimizar o pagamento de juros.
Passados os períodos mais difíceis, a situação retomava lentamente a normalidade. Nos finais da década de 20, as operações mantinham-se limitadas. Em 1929, o capital inicial da instituição mantinha-se inalterado: 11.000$00 insulanos ou 8.800$00 fortes.
A crise nos princípios dos anos 30 criou novos embaraços numa instituição que, lentamente, recuperava. Com os acontecimentos vividos nas caixas económicas da Horta e noutras instituições bancárias dos Açores, a corrida aos depósitos e o clima de desconfiança voltou. Embora a Caixa Económica Picoense não registasse prejuízos, os lucros eram parcos e iam decaindo de ano para ano. Não obstante, em 1950, face à necessidade de instalações condignas e à retoma da normalidade, constrói instalações próprias.
Nos anos 60, as melhorias eram notáveis. Nos setores da agricultura e pecuária registavam-se várias liquidações de dívidas e também uma menor procura de crédito. No início dos anos 70, continuou a verificar-se o aumento dos depósitos na Caixa Económica Picoense e a constituição de inúmeros depósitos a prazo, permitindo o aumento do crédito concedido. O ano de 1974 foi um ano de viragem e, em 1975, foram reabertas as sucursais de Lajes e São Roque, anteriormente encerradas. O desejo expansionista da Caixa Económica Picoense acompanhava as tendências que se viviam no mercado financeiro nacional.
Em 1981 muda de instalações para enfrentar novos desafios e dar resposta ao desenvolvimento do negócio. Neste ano, adquire um edifício destinado à sucursal das Lajes.
Em 1983 termina o percurso a solo da Caixa Económica Picoense: juntamente com as Caixas Económicas da Praia da Vitória e da Ribeira Grande, integrou a Caixa Económica Açoreana; esta última, por sua vez, foi adquirida pelo Montepio Geral, em 1995.
Para a história fica então este legado da Caixa Económica Picoense, a instituição bancária que, muito provavelmente, será para sempre a única a alguma vez ter tido a sua sede na ilha do Pico.
[Fonte: Banco de Portugal]
Haja saúde!
Livro de cheques da Caixa Económica Picoense utilizado pela Empresa Barcos do Pico. |
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